Drinque na live: beber em casa — Gama Revista

Bem-estar

Drinque em casa

©Gettyimages

Para não errar na dose, vale atrelar o consumo de álcool à sociabilidade e aos rituais cotidianos. E, claro, com moderação

Willian Vieira 03 de Abril de 2020

Dias atrás, quando Derek Brown, autor de um livro sobre coquetéis, perguntou no Twitter que receitas as pessoas vinham improvisando na quarentena, recebeu mais de mil respostas (incluindo vodka com leite de aveia). Nascia o “quarantini“, drinque feito com quaisquer bebidas que se tenha em casa, mais uma dose de ansiedade e outra de tédio – e que traduz como, em tempos de pandemia, talvez estejamos bebendo demais.

Pois as pessoas estão comprando álcool feito loucas (e não só em gel). Nos Estados Unidos, as vendas saltaram 55% só na primeira semana de isolamento social, com destilados como gim à frente. Na Espanha, a venda de cerveja disparou 77% e a de vinho, 62%. Os números lembram os do Natal. Só não há o que celebrar.

As festas foram canceladas, bares e restaurantes, fechados. Só os mercados seguem abertos com suas prateleiras de bebidas disputadas. Além das compras online, que vivem dias de glória com o delivery. No Brasil, a Wine teve 40% mais pedidos entre a primeira e a segunda quinzena de março.

Não há dados sobre mudanças no comportamento em relação à bebida. Mas há cada vez mais gente surgindo em videoconferências, no Instagram e mesmo na TV com aquele copo de bebida na mão. Para se destacar, a apresentadora Ina Garten teve de reatualizar a noção de “só um drinque”.

Mantenha a lógica do happy-hour

Em situações de crise e estresse crônico, as pessoas bebem mais porque é uma forma imediata de relaxar e se dar prazer”, diz o psiquiatra Ivan Mario Braun, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP e especialista em abuso de substâncias. “Tédio, estresse, convívio forçado, tudo pode desencadear o exagero.”

É importante manter o ritual comedido e atrelar esse consumo a circunstâncias específicas. Não adianta marcar hangout todo dia com amigos diferentes e beber sempre

Uma dica é atrelar o consumo de bebidas à presença (mesmo que virtual) de amigos e familiares. Afinal, o que tem mais a ver com socialização que beber em companhia de quem se gosta? Abra o hangout, convide os amigos e beba “junto”.

O ideal é manter a lógica do happy-hour: se antes você bebia toda sexta com amigos no bar, faça o mesmo no hangout. Mas só sexta. “É importante manter o ritual, comedido, e atrelar o consumo a circunstâncias específicas. Não adianta marcar hangout todo dia com amigos diferentes e beber.”

Não estoque bebida: lembre do camundongo

Pense num rato de laboratório diante de um botão que libera álcool – basta apertar e beber. Mesmo quando levam um choque, muitos continuam apertando o botão. Sem nada pra fazer ou sentido pra vida de rato, por que não levar um choque e encher a cara?

Braun faz a analogia de forma anedótica. “Somos como o animal preso na gaiola: se houver comida ou bebida à disposição, e estivermos entediados ou sem perspectiva, acabamos consumindo a substância em excesso”, diz. Como um gatilho para a compulsão é ter a substância em casa, sobretudo para quem tem histórico de abuso, o psiquiatra sugere não estocar bebidas.

“É bom ficar atento às mudanças no padrão de consumo”, diz. Quem só costuma beber fora e raramente não deve ter problemas. Já quem tem hábito de beber em casa, sobretudo sozinho (e tem sempre aquela meia garrafa de vinho na geladeira) precisa ter atenção redobrada.

Você nunca bebeu numa segunda-feira e de repente percebeu uma taça de vinho na mesa do escritório às 16h? Melhor repensar

Um dos pacientes que ele acompanha e vinha controlando bem a adição, por causa das incertezas trazidas pela pandemia (e do convívio forçado com a família), acabou voltando a exagerar – e mais do que antes. Se você acha que é um alcoólatra, os especialistas indicam buscar ajuda.

Beber sozinho é visto como sinal de que algo está errado. Mas e abrir aquela garrafa de vinho faz mal? “O que importa é a relação que se estabelece com o álcool e os problemas que se identifica a partir do consumo”, diz Braun. Preparar uma massa para harmonizar com o vinho e degustá-lo é diferente de entornar uma garrafa em meia hora vendo “Friends”. Sobretudo se você começa a incomodar os outros depois…

“O importante é ficar atento aos sinais”, diz Braun. Você nunca bebeu numa segunda-feira e de repente percebeu uma taça de vinho na mesa do escritório às 16h? Melhor repensar. Afinal, “as pessoas sempre encontram desculpas para beber”. Na quarentena, o ideal é criar e manter rotinas. Cuidado para não criar especificamente essa.

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