O jejum intermitente é saudável? — Gama Revista

Saúde

O jejum intermitente é saudável?

©Gettyimages

Entenda por que o jejum intermitente é o regime da vez – e quais seus riscos

Willian Vieira 29 de Março de 2020

Comer o que quiser e ainda emagrecer, ter mais disposição e quem sabe viver mais parece uma possibilidade atraente. Sobretudo quando o CEO do Twitter, dentre outros magnatas do Vale do Silício, publica odes ao jejum em sua rede social e até Jennifer Aniston é embaixadora da ideia. A atriz passa 16 horas seguidas sem comida, todo dia, a não ser quando chuta o balde – e toma um suco de salsão. Qual o segredo da sua beleza, perguntou uma repórter. Ao que ela respondeu: “Não comer”.

O jejum intermitente tem um método simples. Quem pratica alterna períodos de alimentação normal com uma janela de abstinência. Em geral, posterga-se a primeira refeição e antecipa-se a última, passando 12, 16 horas, até mais sem comer. Em uma cultura que preconiza três refeições por dia, fora os lanchinhos, eliminar o café da manhã ou a janta não soa factível.

Mas nos últimos anos a propaganda feita por celebridades, como também o ator Hugh Jackman, e o resultado dos primeiros estudos têm alçado o jejum ao mainstream. Afinal, não se trata do que comer nem quanto, mas de quando.

O que a atriz Jennifer Aniston, o CEO do Twitter, Jack Dorsey e Hugh Jackman, o Wolverine, têm em comum? Corpos sarados e a prática do jejum intermitente

A ciência por trás do jejum

O argumento dos entusiastas é que, desde as cavernas, quando o Homo sapiens era um coletor-caçador sem plantações, rebanhos ou geladeira, nossa espécie enfrenta longos períodos de inanição. Para a maioria da humanidade (até os dias de hoje, aliás), comer três vezes por dia nunca foi a regra. E assim o corpo teria se adaptado a lidar com a alternância entre fartura e penúria.

É ciência: fígado e músculos absorvem carboidrato como glicogênio para consumo imediato, enquanto os tecidos adiposos estocam energia para longo prazo. Após horas de jejum, o metabolismo deixa de consumir o açúcar e queima a gordura. “Seu corpo sabe o que fazer, ele vai usar a gordura corporal”, disse Jason Fung, autor de “O Código da Obesidade”, a bíblia do jejum intermitente. “É por isso que você a carrega sempre com você.”

Para Fung, a epidemia mundial de obesidade teria relação com o desequilíbrio na produção de insulina. “A ideia do jejum intermitente é permitir que os níveis de insulina desçam o bastante e por tempo suficiente para queimarmos a gordura”, explica a Gama Monique Tello, editora da Harvard Health Publishing. A questão seria, então, acostumar-se à fome.

O tamanho da sua janela

O método mais famoso, o “16/8”, ou protocolo Leangains, preconiza jejum total por 16 horas seguidas – atrasar o café da manhã e jantar mais cedo. Todas as calorias do dia são ingeridas numa janela de oito horas. Tem ainda o “5:2”, em que se come normalmente em cinco dias da semana, reduzindo calorias em outros dois; e o de 24 horas de abstinência, duas vezes por semana.

A The Conversation comparou os três e vaticinou: o melhor, porque as pessoas tendem a desistir menos e gera mais possíveis benefícios, é o 16/8: sem pular o café da manhã (comer, só entre 11 h e 19 h, por exemplo).

Os estudos que referendam a prática apontam para menor alteração nos níveis de glicose e insulina, redução da gordura corporal, do colesterol e de problemas cardíacos e até diminuição do risco de câncer. Há alegações ainda de que ocorreriam aumento da resistência física e da coordenação motora, até um “descanso” do sistema digestivo e um boost na flora intestinal, além da regeneração das células… e por aí vai.

Mas é para qualquer um?

Não. De saída, grávidas, idosos e pessoas com diabetes ou problemas de pressão devem evitar o jejum ou, no mínimo, procurar um médico. A maioria dos estudos ainda é preliminar. Pesquisas mais amplas estão em curso; então parece cedo para afirmar que o jejum intermitente vale totalmente a pena.

Para os críticos, aliás, ele é perigoso. “Restringir a alimentação a uma parte do dia ignora as necessidades do corpo, deixa-o malnutrido”, diz a nutricionista Emily Fonnesbeck. E isso poderia ainda impactar o balanço hormonal, a digestão e o sono.

O maior risco, porém, é outro: “O jejum pode ser um caminho perigoso rumo a hábitos prejudiciais à saúde e a uma relação problemática com a comida”, diz a nutricionista Jessica Dording. Fadiga, tontura e mudanças de humor ocorrem, o que leva muita gente a parar na metade – 38% dos participantes de um estudo de 2017 desistiram no início – e abraçar compulsões alimentares.

É preciso entender por que  jejuar. Perda de peso ou uma nova educação alimentar?

Se o objetivo é perder peso, a probabilidade de ganhar tudo de volta (e com mais voracidade, o tal binge eating) existe. Por isso, é preciso entender bem por que se quer jejuar. Perda de peso ou uma nova educação alimentar? Se a ideia é emagrecer, talvez valha a pena repensar a dieta. Se queremos abraçar o lifestyle, temos de pesquisar que método usar.

O mais importante, diz Dording, “é ter um plano de saída do jejum” acordado com um nutricionista para garantir uma transição saudável e evitar o efeito-sanfona e transtornos alimentares. E lembre-se: procure um nutricionista antes de se aventurar. Há ainda tecnologias para ajudar na missão. Nem Jennifer Aniston fez tudo sozinha.

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