Dicas de vinhos para o verão — Gama Revista
Comida e bebida

Sonhos de um vinho de verão

Não há certo e errado, mas há dicas para se beber melhor no calor. Bebidas leves, com baixo teor alcoólico e alta acidez são o começo para matar a sede

Isabelle Moreira Lima 22 de Janeiro de 2021

Nada mais chato do que impor regra ao vinho. Talvez seja justamente daí que vem o termo enochato, aqueles que supostamente sabem mais e querem não só ensinar mas apontar o dedo. No vinho, vale apenas uma lei: não há certo e errado. Mas, claro, há maneiras de se aproveitar a bebida ao máximo. Aqui, listamos perguntas e respostas para ser mais feliz com vinho na estação mais quente do ano. Os sommeliers e Jessica Marinzeck, do e-commerce Evino, Maria e Pedro Senna, sócios da loja Toque de Vinho, ajudaram a responder.

Para começar, vale dizer que é uma injustiça com o verão relacionar o consumo de vinho apenas às temperaturas baixas. Vinho combina muito bem com calor, acredite, basta encontrar o estilo certo — leve, fresco, alegre –, e ter alguns cuidados com o serviço. Isso pode transformar a experiência em algo muito mais gratificante.

Que garrafas abrir para aplacar a sede?

Bebidas com corpo leve, acidez alta, que não estagiam em barricas de madeira e têm nível alcoólico mais baixo. E isso inclui tudo: espumantes (especialmente os deliciosos e refrescantes pét-nats), brancos, rosés, laranjas e, pode parecer estranho, mas tintos também, a depender da uva e do modo de produção. “Prefira os tintos com pouco tanino ou os elaborados por maceração carbônica [um tipo de extração mais delicada]. Algumas uvas interessantes são a País e a Cinsault, boas para se tomar mais geladinhas”, recomenda Maria Senna.

Nos tintos, melhor fugir dos taninos e buscar o corpo leve. Nos brancos, vale ousar e ir além das clássicas Chardonnay e Sauvignon Blanc

Entre os brancos, vale ousar e ir além das clássicas Chardonnay e Sauvignon Blanc. Jessica Marinzeck recomenda vinhos feitos com a Alvarinho. “Pode ser de Rías Baixas, na Espanha, ou de Portugal também, da região dos Vinhos Verdes”, recomenda. Para os fãs de vinho mais encorpado, a dica é a Viognier, que é uma cepa branca com aromas muito florais e corpo mais robusto. A italiana Fiano segue a mesma linha. Para os amantes de Riesling, Jessica sugere ainda a Chenin Blanc, que tem excelente acidez e é muito versátil.

Para quem gosta muito de tinto (ou de cerveja) e quer experimentar algo novo, é hora de mergulhar no vinho laranja. Eles são feitos com uvas brancas que ficam mais tempo em contato com as cascas e com isso adquirem um pouco mais de estrutura e, geralmente, são complexos aromaticamente. São bons para acompanhar a comida e, geralmente, têm acidez bem alta. Ou seja, são ótimos para matar a sede.

Vale gelar no freezer?

Mais importante do que a taça em que se vai beber o vinho é o próprio vinho, ensina a crítica inglesa Jancis Robinson em “Expert em Vinhos em 24 Horas” (Planeta, 2018). Por isso é fundamental não só gelar, mas manter a temperatura da bebida, pois é ela quem pode salvar ou derrubar o que você vai provar — se ficar frio demais, não terá gosto de nada; se ficar quente, terá gosto de lama. No verão, é interessante resfriar os vinhos um ponto a mais do que o recomendado, porque, com o calor ambiente, eles esquentam mais rapidamente na taça.

A polícia do vinho não vai detê-lo por colocar a garrafa no freezer, mas use o timer para não esquecer-se dela e congelar a bebida

Se você decidiu beber de última hora, a polícia do vinho não vai detê-lo por colocar a garrafa no freezer. No entanto, é recomendado o uso de um timer para que ela não seja esquecida ali e corra o risco de sofrer congelamento. “Coloca o despertador e dá uma olhada a cada dez minutos”, sugere Maria Senna. Quem já congelou um espumante sabe a tristeza que é: ou a garrafa explode ou ela perde todas suas borbulhas.

“Dá para usar também um papel toalha molhado em volta da garrafa e deixar no congelador por 15 minutos, sempre meio de olho para a bebida não congelar”, ensina Jessica Marinzeck, sommeliere da Evino.

Mais eficiente ainda é o bom e velho balde de gelo, recomenda Pedro Senna. Se você tem bastante gelo em casa, preencha um terço do balde e outro terço com água. Vale ainda girar a garrafa algumas vezes para aumentar o contato da garrafa com o líquido.

E gelo na taça?

A resposta a essa pergunta é a mais próxima de um não que você vai ler aqui. Em vinhos mais doces, onde há o chamado “açúcar residual”, um gelinho pode até cair bem. Há também vinhos feitos com esse propósito, geralmente batizados de “Ice alguma coisa”. Mas, no geral, não é boa ideia porque o gelo dilui a bebida, deixando-a mais sem graça. Pedro Senna recomenda aquelas bolinhas de gel que são guardadas do freezer e que operam como um gelo sem diluição. Rita Lobo recomenda congelar uvas Thompson para gelar os brancos.

Dá para confiar em vinho de lata?

Vinho de lata nasceu para ser bebido descompromissadamente. Se você colocá-lo numa lupa não vai ser legal. Mas se você gelar e abrir ao fim de uma sexta-feira, pode se divertir bastante. “Sou fanzona do vinho em lata. É rápido de gelar e, na verdade, já podem ser mantidos na geladeira, o que não é o ideal para as garrafas, porque tem a trepidação e a luz”, diz Jessica. “Vale até tomar de canudinho, levar em um rolê”, completa Maria.

Vinho também vai à praia?

Claro que vai, é só você levar. E, para simplificar, além das latinhas, pode dar preferência às garrafas de screw cap, a tampa de rosca, que vai dispensar até o saca-rolhas. Para gelar, pode usar aquelas sacolinhas de plástico duro, as icebags. A grande vantagem é que pedem menos gelo (uma bandeja deve dar conta), têm alça para carregar e, na hora de voltar para casa, é só esvaziar, enrolar e jogar na bolsa.

Com que taça eu vou?

Vá com a universal, modelo conhecido como Bordeaux. Não precisa ser nada muito chique, não precisa ser cara, mas tente evitar as de plástico porque elas podem dar cheiro ao vinho (e o aroma nessa bebida é parte da brincadeira, você não quer mais elementos para confundir seu nariz).

Por onde começar

Se você tem algumas garrafas para abrir em uma mesma ocasião, no verão não é muito diferente de outras estações: comece sempre pela bebida com o corpo mais leve (isso você pode checar na ficha técnica, geralmente disponível na internet no site das importadoras ou das próprias vinícolas) e o teor alcoólico mais baixo, que é indicado no rótulo ou no contrarrótulo. Entre os estilos, vá nesta ordem: espumantes (primeiro charmat — método de tanque –, depois o tradicional — método de Champagne), brancos, rosés, laranjas e tintos.

Rótulos para abrir os trabalhos

Aqui uma lista de rótulos que são deliciosos nos dias (e noites) mais quentes:

  • Pfaffmann Riesling seco

    Quer uma aula de Riesling? Este vinho alemão vai te ensinar, ao unir os aromas típicos de petróleo a delicadas notas florais e cítricas. É bem sequinho, leve, nem pede comida, mas vai bem também com peixes. É orgânico e produzido com uvas de um vinhedo único de uma propriedade que está na mesma família há 18 gerações. Ainda bem que é um litrão porque você vai querer mais.

  • Cara Sucia Cereza

    Com acidez nas alturas, esse tinto levíssimo vai bem geladinho numa noite de verão e tem aromas que lembram cereja, daí o “cereza” do rótulo. Pode acompanhar uma massa, uma salada ou uma mesa de queijo e embutido. Vai bem também sozinho.

  • Macerao

    Esse talvez seja o laranja mais em conta à venda no Brasil hoje e uma excelente porta de entrada para o estilo. Feito com Moscatel de Alexandria, uma uva superaromática pela vinícola chilena Luis Felipe Edwards, é muitíssimo floral e perfeito como porta de entrada para o estilo, por ser uma versão menos “radical”.

  • Quinta do Crasto Branco e Rosé

    Se for pra sair do comum com a garantia de que a acidez estará nas alturas, não há dúvidas de que Portugal é uma grande origem para a sua garrafa. A Quinta do Crasto é sinônimo de qualidade e faz vinhos superelegantes. O branco é feito com Viosinho, Gouveio e Rabigato, com um delicado aroma de flor de laranjeira e de fruta cítrica; o rosé, com Tinta Roriz e Touriga Nacional, que lhe confere um belíssimo aroma floral.

  • Taylor’s Fine White

    Não se espante ao ver um vinho do porto aqui, mas este branco é perfeito para preparar uma Porto Tônica, aí sim com gelo. E uma rodela de laranja-da-baía e um raminho de hortelã.

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