Quem vai tomar o lugar do negroni? — Gama Revista

Comida e bebida

Quem vai tomar o lugar do negroni?

Fotografia de um copo com Negroni
© Bruno Geraldi

Drinques leves, refrescantes e naturais. Confira as combinações que estão ocupando o lugar da bebida da década

Isabelle Moreira Lima 29 de Março de 2020

Há quase uma década, o negroni impera em contas de Instagram e em balcões ao redor do mundo, majestoso e amargo, com sua cor acobreada, a textura rica e uma casca de laranja reluzente tal qual uma coroa. Preparado nos quatro cantos do planeta, ganhou bar flutuante no Tâmisa, virou café da manhã dos campeões, em uma versão com cereal matinal, e até picolé. Mas, como o amor, o paladar mundial vem em ondas, muda com o tempo e começa a desejar outras coisas. E, assim, a era do negroni parece estar perto do fim.

Mas quem o substituiria? Há diferentes palpites, mas todos apontam para uma mesma direção: a da leveza. Os postulantes a drinques da vez são diametralmente opostos ao negroni, um drinque invernal, com alta gradação alcoólica e muito corpo. Os que chegam são leves, refrescantes e mais naturais. E até o gelo muda. Sai a pedrona bem lapidada, entram muitos e muitos cubos. Confira as apostas.

1. Highball

A maior aposta dos bartenders já configura nas cartas dos principais bares e restaurantes de todo o mundo. É feita apenas com dois ingredientes, um destilado e um não alcoólico (preferencialmente) gaseificado.

Se você parar para pensar, o highball não é novidade nenhuma. Quem nunca bebeu gim-tônica, uísque com soda e até mesmo vodca com energético que atire a primeira pedra. A novidade agora é embalá-los todos em uma mesma categoria e sob as regras da coquetelaria clássica: um bom highball é servido em copo alto, com bastante gelo e preparado de uma vez, para dar uma folguinha ao bartender que já estava com LER de tanto misturar negroni (afinal, são três garrafas a ser manuseadas).

“No Brasil, as pessoas não sabem que esses coquetéis fazem parte de uma mesma família. Até o moscow mule é um highball, com a diferença de que é servido em uma caneca”, diz Marcelo Sant’Iago, editor do Difford’s Guide, Brasil. O ponto-chave do sucesso desse tipo de drinque é sua diluição, defende Márcio Silva, bartender e dono do Guilhotina, em São Paulo. “As pessoas estão bebendo com mais consciência, evitando coquetéis altamente alcoólicos. O highball, com duas a três misturas no máximo, faz com que se aproveite mais a experiência do local em que se está”, afirma.


2. Mojito

Esse drinque, cuja receita pede rum, suco de limão, açúcar, hortelã e club soda ou água com gás é um segundo concorrente com menos apelo novidadeiro; afinal já é velho conhecido da praça, de verões mil. Por outro lado, tem um sex appeal mais que contemporâneo ao responder à busca por algo mais natural, com seu suco de limão e suas folhas de hortelã. “A tendência é que as pessoas busquem ingredientes frescos. Estamos saindo de um ciclo de coquetéis ‘plastificados’, com gim, tônicas, Campari etc., para uma linha mais orgânica”, afirma o consultor Marco de la Roche.

Ele aposta ainda no fim do reino dos destilados brancos. Após dez anos de vodca e outra década de gim, seria a vez de um destilado cheio de sabor, da turma dos amadeirados. E aí a briga pode se dar entre o bourbon e o rum, que já há algum tempo vem sendo citado pela imprensa especializada internacional como a bola da (próxima) vez.

Quem vai definir isso? As estratégias das empresas produtoras e, em alguns casos, até políticas de governo. O negroni virou o que virou porque a Campari, uma marca cansada, “mofada”, precisava se reinventar. Investiu e conseguiu. Agora é chegada a vez do rum. “Se a Bacardi se mexe, ninguém segura”, diz de la Roche, embora ele acredite que quem tem mais bala na agulha mesmo sejam os bourbons. E aí há um terceiro candidato.


3. Mint julep

Feito com bourbon, hortelã, xarope de açúcar e bitter (opcional), este terceiro coquetel tem uma batalha maior a vencer. Isso porque o bourbon tem que emplacar de vez no Brasil. Ele chegou tímido e fez até algum barulho há cinco anos, mas acabou restrito à esfera hipster.

Mas Marco de la Roche acredita que há três vantagens aí. A primeira que ele é sofisticado o suficiente para agradar ao paladar de uma turma que começou a beber já dentro dos preceitos da coquetelaria clássica, que vive seu renascimento desde 2007 (obrigada, Mad Men), e não adentrou ao mundo do álcool com shots ou cerveja industrial como as gerações anteriores.

A segunda é que o lobby do bourbon pode ser muito mais forte que o do rum. “O que determina o sucesso de um drinque é o movimento estratégico das grandes companhias. Eles romantizam, contam histórias incríveis, mas investem milhões, o que dá resultado. Claro que a estratégia pode dar errado, como foi o caso da caipirinha lá fora. Hoje, há cachaças no exterior que nós nem conhecemos aqui. Por isso, em muitos casos, além das marcas, é preciso ter movimentação de governo”, afirma. E a terceira, o fato de que, com aquele copinho de aço e ramos de hortelã, o mint julep fica bonito demais e vai arrasar em qualquer feed.

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