Fitinha do Senhor do Bonfim - objeto de análise — Gama Revista
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Fitinha do Senhor do Bonfim

Bicentenária, habita pulsos, tornozelos, zíperes e apetrechos de praticamente qualquer turista que visite Salvador

Leonardo Neiva 03 de Novembro de 2020
  • O que é

    Uma fita de tecido gravada com a inscrição “Lembrança do Senhor do Bonfim da Bahia”, que hoje pode ser encontrada em dez tonalidades diferentes, cada uma representando um orixá, apesar da origem católica do objeto. Hoje, habita pulsos, tornozelos, zíperes e apetrechos de praticamente qualquer turista que visite Salvador. Embora diferentes usos tenham sido adotados, manda a tradição que, para funcionar, a fita deve dar duas voltas no pulso esquerdo e estar amarrada com três nós, cada um correspondendo a um desejo que o usuário precisa manter em segredo. Quando o tecido se arrebentar espontaneamente, significa que os pedidos se realizaram.

    As fitinhas até chegaram a ser produzidas em São Paulo e em Minas Gerais a partir da década de 1990, onde o algodão foi substituído por materiais sintéticos como náilon e poliéster. O problema é que, por serem tecidos mais resistentes, demoravam a esgarçar, e os desejos tinham que passar mais tempo na fila de espera. Por sorte, em 2013 elas voltaram a ser fabricadas em Salvador com o tamanho original e em algodão.

  • Quem fez

    Acredita-se que tenha sido o tesoureiro da Irmandade do Senhor do Bonfim, Manuel Antonio da Silva Servo, quem, em 1809, deu o pontapé inicial na fabricação das fitinhas, então feitas de seda e criadas com a meta de arrecadar fundos para custear a instituição. Originalmente, a “medida do Bonfim”, como ficou conhecida em seus primórdios, era um acessório mais caro, produzido à mão com um comprimento de 47 centímetros, que correspondia à dimensão do braço direito da estátua de Jesus na igreja do Senhor do Bonfim, a mais conhecida da capital baiana e dedicada à figura de Cristo em ascensão. O desenho e o nome do santo vinham bordados no tecido, que recebia acabamento em tinta prateada ou dourada. No lugar dos pulsos, era usado em torno do pescoço, com medalhas e santinhos pendurados como pingentes.

    Sua história fica mais nebulosa por volta das décadas de 1940 e 1950, quando praticamente parou de ser usada. Com um empurrãozinho do governo local, que reforçou o aspecto milagroso das fitas como estratégia para impulsionar o turismo, ela retornou em 1960, já como pulseira e vendida normalmente por comerciantes pelas ruas de Salvador.

  • Por que são tão desejadas

    Como ir a Salvador e voltar para casa sem a fitinha nos pulsos para provar que esteve lá? Além de servir como souvenir do tipo “fui a Salvador e lembrei de você” e funcionar como lâmpada garantidora de desejos, o objeto também adorna malas, mochilas e carteiras e pode ser comprado em grandes quantidades para depois ser distribuído como lembrancinha aos amigos e familiares que não puderam aproveitar as delícias da Bahia. A peça simboliza também um modo de vida mais relaxado e de bem com a existência — não à toa, era acessório quase obrigatório dos hippies baianos a partir da década de 1960. Além do mais, é um ícone da moda tradicional brasileira e já desfilou pelos pulsos de atrizes como Susan Sarandon e Lindsay Lohan.

  • Vale?

    Ô se vale, ainda mais porque tradicionalmente a fita não deve ser comprada por quem vai usá-la, mas recebida como presente — o ideal inclusive é que a outra pessoa amarre-a no seu pulso por você. Ainda que o turista ou devoto decida ou precise arcar com os custos, o objeto não é lá muito caro. Verdade que não tem também grande utilização prática, mas para muitos o conforto emocional que traz acaba valendo a pena. Afinal, serve como souvenir de uma visita inesquecível a Salvador, como pedaço da história e da mistura de religiões que caracteriza a Bahia, e como lembrança de que é preciso tempo e um certo desgaste para que desejos possam se materializar

  • Como comprar

    É possível adquiri-la por alguns centavos em bancas de rua e lojas de Salvador. Mesmo kits com dezenas podem ser encontrados pela capital baiana por valores abaixo de R$ 5. As fitas também estão espalhadas pela internet, soltas, em pacotes ou até em rolos, com preços um pouco mais salgados — mas não exatamente exorbitantes. São várias as possibilidades, desde sites como Submarino até o Mercado Livre.

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