As aulas voltaram, mas a pandemia não acabou — Gama Revista

Filhos

As aulas voltaram, mas a pandemia não acabou

Guilherme Falcão/Getty Images

Com a retomada das atividades presenciais nas escolas, surge um novo problema: quais os limites de convívio entre as crianças do portão para fora?

Giuliana Bergamo 12 de Fevereiro de 2021

As aulas presenciais, enfim, voltaram. Por mais delicado que seja o momento, um aspecto é reconfortante: as crianças podem encontrar outras crianças, ter um respiro da intensa convivência com parentes, sobretudo os adultos, ficar longe das telas. Além disso, para muitas, esta é a chance de escapar de situações de extrema vulnerabilidade, como a violência doméstica e a fome. “A escola, quando segue os protocolos de prevenção, é o lugar mais seguro onde uma criança pode estar agora”, diz o pediatra Daniel Becker.

Para dar conta dessa nova etapa na pandemia, a maior parte das escolas está sendo cuidadosa, separando as carteiras e adotando outras regras de distanciamento, exigindo uso de máscaras, controlando o número de crianças e funcionários por turno – isso sem falar nos esforços para dar conta do ensino híbrido. E os educadores pedem que os pais sigam uma lista de cuidados se decidirem levar seus filhos à aula. Mas e no resto do tempo? Que tipo de comportamento se espera dos pais e mães que optarem por levar as crianças para as aulas presenciais?

Neste momento, o pacto entre escolas e as famílias é fundamental. É ele que vai garantir que elas continuem abertas, o que é tão importante para as crianças

“Neste momento, o pacto entre escolas e as famílias é fundamental. É ele que vai garantir que elas continuem abertas, o que é tão importante para as crianças”, diz o pediatra Daniel Becker. Ou seja: de nada adianta mandar álcool em gel na mochila se, na saída, pais ou mães resolverem tomar um lanche juntos na padaria perto da escola, onde todo mundo vai acabar tirando as máscaras e o risco de compartilhar alimentos e desobedecer o distanciamento é alto. Ou se rolar aquele: “Já que as crianças estão se encontrando…, por que não fazer um churrasco no fim de semana, uma festinha do pijama, um bailinho de Carnaval?”

Quem se importa?

“As pessoas que escolheram trazer seu filho para a escola precisa assumir o compromisso de adotar um comportamento seguro também na vida privada e nos fins de semana”, diz Fernanda Flores, diretora da Escola da Vila, em São Paulo. Segundo ela, a percepção, até agora, é de que boa parte das famílias está preocupada e tem até buscado a ajuda da escola para adotar determinadas condutas. “Nos procuram, por exemplo, para pedir orientações sobre como fazer o esquema de carona de maneira segura.”

O problema é que as famílias brasileiras se dividem entre aquelas que adotaram regras rígidas; e as outras, que pouco se importam com o resto do mundo

Mas nem todo mundo tem tanto cuidado. “O problema é que as famílias brasileiras se dividem basicamente em dois grupos: aquelas que adotaram regras tão rígidas, trancaram seus filhos dentro de casa por meses e acabaram impondo a eles outros males; e as outras, que pouco se importam com o resto do mundo e continuam vivendo a vida como se nada estivesse acontecendo”, diz Becker.

Que tal um piquenique?

Mesmo quem não está nem pra lá, nem pra cá, pode encarar dificuldade de saber como agir agora.

No terceiro dia de aula do seu filho, Davi, de 9 anos, a bailarina Talita Rugai Salle resolveu fazer uma proposta no grupo de pais no WhatsApp. Ela estava animada com o início de uma nova etapa em tempos tão duros e, como havia se isolado com o menino no interior, quis matar a saudade reunindo os amiguinhos e as famílias em um piquenique no parque no fim de semana seguinte. Logo surgiram adeptos, mas a conversa parou depois que Talita encontrou com outras duas mães na saída da escola. “Comentei sobre o passeio e elas me alertaram para algo que eu nem tinha pensado: que seria arriscado, justo agora, promover qualquer tipo de reunião. Achei que tinham razão e desisti”, diz.

Foi uma decisão acertada. “O momento exige bom senso. Não é porque as crianças estão indo às aulas que podemos liberar geral”, diz a pneumologista Patrícia Canto, coordenadora do Grupo de Trabalho sobre o retorno presencial às aulas da Fiocruz-RJ. Segundo ela, agora é hora de reforçar alguns cuidados na vida em geral, para garantir que a reabertura seja segura. Ou seja, já que as crianças estão se encontrando na aula… elas não precisam se encontrar também na padaria, no churrasco, na festa do pijama.

“Entre frequentar a escola ou um parquinho, a primeira opção, sem dúvida, é a melhor”, diz a médica. Isso porque elas são ambientes controlados, onde o cumprimento das regras de distanciamento, higiene e uso de máscaras é constantemente fiscalizado pelos educadores e funcionários. Em outros lugares, nem sempre dá para fazer tudo isso.

“Nós não apenas vigiamos o comportamento dos alunos, como reforçamos todos os dias as medidas de distanciamento em rodas de conversa e até atividades de sala de aula”, diz Fernanda Flores. A educadora afirma ainda que os papos incluem uma certa ronda sobre os hábitos das famílias. Com os pequenos, do fundamental 1, por exemplo, as professoras fazem chamadas perguntando sobre o que os alunos fizeram no fim de semana, como quem já viajou ou quem já foi a uma festa.

Como agir então?

O que a médica Patrícia Canto chama de bom senso é, antes de tudo, seguir as orientações da escola. Se seu filho ou sua filha teve uma “febrinha” no meio da madrugada, mas acordou sem, paciência! Vai ter que ficar em casa, consultar um médico e, se possível, fazer o exame para avaliar se é uma infecção por coronavírus. Caso qualquer outra pessoa que tenha contato direto com a criança manifeste algum dos sintomas de Covid-19, também é preciso se ausentar das aulas presenciais. Quanto às possibilidades de convívio: nada de aglomerações, nem mesmo de reuniões “íntimas”, como noites do pijama “só com as crianças”.

Precisamos dar o exemplo a nossos filhos sempre. Mostrar que estamos preocupados com a pandemia, com o impacto coletivo de nossas ações é também uma atitude de educação

Aí surge um outro problema. Talvez seu filho ou sua filha receba um convite para um evento assim e você precise negar. Vai rolar, é claro, uma boa dose de frustração e pode ser difícil lidar com ela justo em um momento tão sensível. “Precisamos dar o exemplo a nossos filhos sempre. Mostrar que estamos preocupados com a pandemia, com o impacto coletivo de nossas ações é também uma atitude de educação”, diz a médica.

Isso não significa, porém, que reuniões fora da escola estão completamente proibidas. “Encontros ao ar livre, com máscara e distanciamento são seguros. Pode fazer!”, afirma Daniel Becker.

_________________________________________________________________________

VEJA TAMBÉM:

Eu não nasci mãe – educadora e mãe de quatro lança livro

Como reduzir o risco de contágio de covid-19 nas escolas

Olivia Byington: a experiência de ter um filho portador da Síndrome de Apert

Quer mais dicas como essas no seu email?

Inscreva-se nas nossas newsletters

  • Todas as newsletters
  • Semana
  • A mais lida
  • Nossas escolhas
  • Achamos que vale
  • Life hacks
  • Obrigada pelo interesse!

    Encaminhamos um e-mail de confirmação