Dez livros para nos ajudar a entender 2020 — Gama Revista
Guilherme Falcão

Dez livros para entender 2020

Foi um ano intenso: o vírus que transformou nossa forma de viver também escancarou desigualdades e disputas políticas, a questão racial e a urgência da crise climática. Gama seleciona títulos que podem nos ajudar a navegar por estes tempos

Mariana Payno 19 de Dezembro de 2020
  • 1

    As grandes epidemias modernas

    Salvador Macip. Editora Nacional, 2020
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    O médico, pesquisador e escritor catalão Salvador Macip faz parte da turma de cientistas que tentou nos avisar sobre o risco de uma pandemia como a do novo coronavírus: em 2009, ele publicava “As Grandes Epidemias Modernas”, mostrando como as doenças infecciosas funcionam e o que podemos fazer para evitar que elas se espalhem. Se pouco depois do lançamento do livro, no final dos anos 2000, o surto global de H1N1 confirmou os temores de Macip, em 2020 a obra ganhou um status quase visionário — e uma edição aumentada, incluindo a perspectiva sobre a covid-19.

  • 2

    Como as democracias morrem

    Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. Zahar, 2018
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    Quase três anos antes da resistência de Donald Trump em aceitar sua derrota nas últimas eleições presidenciais norte-americanas, os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, da Universidade de Harvard, já investigavam o colapso das democracias tradicionais. Partindo da ascensão de Trump à presidência dos EUA em 2016, os pesquisadores revisitam momentos de rompimento da ordem democrática, do fascismo dos anos 1930 à atual onda populista de extrema direita que elege líderes como Jair Bolsonaro e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. Em um momento em que a pandemia abre espaço para atitudes autoritárias e para o enfraquecimento de instituições, a análise é essencial para entender a crise global da democracia.

  • 3

    A vida não é útil

    Ailton Krenak. Companhia das Letras, 2020
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    Com cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre 2017 e 2020, o mais recente livro do pensador e líder indígena Ailton Krenak vem somar às reflexões provocadas em “Ideias para Adiar o Fim do Mundo” (Companhia das Letras, 2019), que vendeu mais de 50 mil cópias e está sendo traduzido para cinco línguas, e “O Amanhã Não Está à Venda” (idem, 2020). Um dos grandes nomes na defesa dos direitos dos povos indígenas e na luta contra a crise climática, Krenak fala sobre a devastação ambiental, a ameaça que os governos de extrema direita representam para o planeta e para os povos originários e sobre como a pandemia do novo coronavírus jogou luz sobre a urgência dessas questões.

  • 4

    Não digam que estamos mortos

    Danez Smith. Bazar do Tempo, 2020
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    Negro, não-binário e soropositivo, o poeta norte-americano Danez Smith despontou nos últimos anos como uma das principais vozes da nova literatura dos EUA, ao abordar temas como o racismo, o corpo negro, as relações afetivas LGBTQI+ e a convivência com o HIV. Finalista do National Book Award e vencedor do Forward Prize, dois prestigiosos prêmios da literatura em língua inglesa, “Não Digam Que Estamos Mortos” começa com uma comovente e longa sequência de versos sobre como seria a vida após a morte para jovens negros assassinados pela polícia. A leitura é visceral depois de um ano em que, mais uma vez, o mundo e o Brasil foram tomados por protestos que denunciam a violência racial.

  • 5

    Raiva

    Bob Woodward. Todavia, 2020
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    O novo livro-reportagem do jornalista Bob Woodward, conhecido por revelar o caso Watergate e pelo best-seller “Medo: Trump na Casa Branca” (Todavia, 2018), revela o momento em que Donald Trump descobre as grandes proporções que a pandemia de covid-19 poderia atingir — e todas as atitudes do então presidente norte-americano que viriam depois disso. Sete meses de investigação resultaram em 17 entrevistas com Trump e outras tantas com membros de seu governo, além do acesso a documentos sigilosos, cartas e emails. Munido desse arsenal de bastidores da Casa Branca, Woodward mostra como se construiu a figura de um presidente reativo e negacionista durante uma das maiores crises do mundo — um movimento que possivelmente lhe custou a reeleição.

  • 6

    Eu, Empregada Doméstica: A Senzala Moderna É O Quartinho Da Empregada

    Preta-Rara. Letramento, 2019
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    A rapper Preta-Rara reúne seus próprios relatos e o de outras mulheres neste livro sobre as experiências das empregadas domésticas, figuras cruciais para a manutenção das estruturas sociais brasileiras. Os depoimentos expõem as condições de trabalho, o desrespeito a direitos básicos e a vulnerabilidade a que são submetidas essas mulheres — questões que também vieram à tona em 2020: vale lembrar que uma das primeiras vítimas da covid-19 no Brasil foi uma trabalhadora doméstica do Rio de Janeiro.

  • 7

    A república das milícias

    Bruno Paes Manso. Todavia, 2020
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    O assassinato de Marielle Franco e a ascensão de Jair Bolsonaro e sua família aos holofotes políticos trouxeram à tona uma grande crise nacional de violência: aquela protagonizada pelas milícias. A partir de depoimentos e de uma extensa investigação jornalística e histórica — que remonta a formação dos esquadrões da morte nos anos 1960, as máfias de caça-níquel, o domínio do tráfico de drogas a partir dos anos 1980 —, o pesquisador Bruno Paes Manso apresenta o funcionamento dessa cena criminal, que envolve a polícia, o tráfico, os jogos de azar e o poder público em uma complexa rede de poder.

  • 8

    A bailarina da morte: a gripe espanhola no Brasil

    Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Companhia das Letras, 2020
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    Uma gripe viral, altamente infecciosa, mata dezenas de milhares de pessoas no Brasil e milhões pelo mundo, paralisa a economia, sobrecarrega o sistema de saúde, cria disputas políticas e se espalha graças ao negacionismo de governantes e à desinformação da população. O ano não era 2020, mas 1918: com base em documentos históricos e imagens da época, a historiadora Heloisa M. Starling e a antropóloga Lila M. Schwarcz recuperam os fatos sobre a epidemia da gripe espanhola, uma das maiores já enfrentadas pela humanidade. O livro traz tristes semelhanças com o atual cenário da covid-19 e propõe reflexões sobre as lições que poderíamos ter aprendido com a história.

  • 9

    Um exu em Nova York

    Cidinha da Silva. Pallas, 2018
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    As ancestralidades africanas e as questões raciais, aliadas às desigualdades de gênero, têm sido os principais temas evocados pela mineira Cidinha da Silva em seus textos que passam por diversos gêneros literários. Os contos de “Um Exu em Nova York”, vencedor do Prêmio Fundação Biblioteca Nacional e finalista do Jabuti em 2019, falam de racismo, intolerância religiosa e da ameaça aos direitos das mulheres, das pessoas negras e da comunidade LGBTQI+.

  • 10

    A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital

    Patrícia Campos Mello. Companhia das Letras, 2020
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    Depois de se transformar em alvo de uma violenta campanha de difamação nas redes sociais em 2018, ao revelar um esquema de disparos em massa de notícias falsas a favor do então candidato Jair Bolsonaro dias antes das eleições presidenciais daquele ano, a jornalista investigativa Patrícia Campos Mello mergulhou de vez no tema da manipulação política na internet. Em “A Máquina do Ódio”, ela mostra como as redes sociais têm sido utilizadas por líderes populistas, com exércitos de robôs digitais que espalham conteúdos falsos, afetando o trabalho dos jornalistas e a liberdade de imprensa.

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