As novelas voltaram com tudo no streaming — Gama Revista
Rede Globo / Getty Images / Isabela Durão

Personagens de novela brilham no streaming

Disponíveis nas plataformas online e em reprises até no horário nobre, folhetins antigos voltam a fazer sucesso e formam onda nostalgica. Gama relembra 13 personagens icônicos da TV brasileira

Daniel Vila Nova 28 de Novembro de 2020

Dois mil e vinte foi um ano anormal. A pandemia do coronavírus transformou a maneira em que vivemos e, consequentemente, a forma como consumimos entretenimento. De uma vez, se foram os esportes, os shows e o cinema. Entretanto, notou-se que valeria a pena ver de novo uma tradição brasileira já um tanto desgastada e, assim, um formato anterior à era de ouro da televisão voltou a reinar em casas por todo o Brasil — a telenovela.

Mas não pense que essa nova onda da telenovela tem a ver com obras inéditas. Produtos como “Amor de Mãe” tiveram suas gravações interrompidas para garantir a saúde dos profissionais que nela trabalhavam e restou à Globo uma alternativa impensável há alguns anos, a de retransmitir novelas clássicas em seu horário nobre. Uma parte da estratégia é explicada pelo grande acervo da emissora, que é também uma gigante na produção do formato. Entre as reprises, obras com menos de dez anos de idade como “Fina Estampa” (2011-2012) e “Novo Mundo” (2017).

Por mais nova que a ideia seja para o horário nobre da TV aberta, já fazia parte da estratégia da emissora para outros canais, que planejava disponibilizar novelas angitas para fortalecer seu serviço de streaming, a GloboPlay.

A operação “tapa-buraco” deu certo e obras como “A Favorita” (2008-2009), “Tieta” (1989-1990) e “Vale Tudo” (1988) aumentaram o consumo de novelas dentro da plataforma em 150% entre janeiro e outubro de 2020 comparado ao mesmo período de 2019. Para Nilson Xavier, criador do site Teledramaturgia e autor do “Almanaque da Telenovela Brasileira” (Panda Books, 2007), um dos motivos pelo quais as novelas antigas fazem sucesso é a nostalgia. “É a memória afetiva que move esse interesse, que atrai esse público saudoso”, afirma o autor, o que explicaria também o porquê da reprise de obras relativamente recentes. Neste caso, seria realmente um “vale a pena ver de novo”.

Segundo Xavier, as novelas são um hábito passado de geração para geração, e se tornaram parte essencial da cultura popular brasileira. A força da nostalgia reconquistou o público, que passou a celebrar o anúncio das reprises. Ao ser anunciada como uma das próximas adições do serviço de streaming da Globo, “Kubanacan” (2003) voltou a ser celebrada pelos fãs da saga do Pescador Parrudo.

É nas novelas que vive grande parte da nossa memória da dramaturgia brasileira. As situações que retratam o país são capturadas nessas obras

Nos últimos anos, a força do gênero foi testada na internet ao ganhar o YouTube e ser debatido na plataforma por diversos de seus canais. Um deles é “O Brasil Que Deu Certo”, onde os YouTubers Ciro Hamen e Matheus Laneri conversam sobre brasilidades e cultura popular brasileira.

Hamen acredita acredita que o formato do streaming se tornou um novo atrativo na hora do público consumir novelas. “Houve um crescimento da chamada ‘cultura de séries’ na última década, que acostumou esse público a consumir conteúdo on demand. As pessoas agora querem novelas, mas no seu próprio tempo e vendo no celular.”

O YouTuber também afirma que as redes sociais potencializam o alcance novelístico, possibilitando conversas, discussões e memes de momentos clássicos. “As novelas tem uma importância fundamental para o brasileiro, é nelas que vive grande parte da nossa memória da dramaturgia brasileira. As situações que retratam o país e as mudanças pelas quais passamos ao longo das décadas são capturadas nessas obras.”

Além de cenas e bordões marcantes, personagens populares também são celebrados na internet. “Muitas vezes a personagem se torna maior do que a própria novela. Às vezes as pessoas sequer sabem o nome da obra, mas lembram da personagem”, afirma Hamen.

Para você que tem saudades de Maria do Carmo ou das Helenas de Manoel Carlos, Gama separou 13 figuras clássicas da teledramaturgia brasileira.

Sinhozinho Malta (Lima Duarte)

de “Roque Santeiro” (1985)

“Tô certo ou tô errado?”, indagava Sinhozinho Malta, interpretado por Lima Duarte. O bordão é lembrado até hoje e exemplifica a relevância da personagem para a teledramaturgia brasileira. A clássica gargalhada do fazendeiro compõe o imaginário popular da personagem, acompanhada dos chapéus de caubói e da extensa coleção de perucas. Inspirada em Tião Maia, rico criador de gado, a personagem chegou a ser comparada ao presidente Jair Bolsonaro pelo próprio Lima Duarte.

Odete Roitman (Beatriz Segall)

de “Vale Tudo” (1988)

Odete Roitman andou para que Laura Palmer pudesse correr. Na véspera de Natal de 1988, a família brasileira ficou em choque quando a vilã elitista e racista interpretada por Beatriz Segall levou três tiros à queima-roupa e caiu morta no chão. “Quem matou Odete Roitman?” é até hoje lembrado como o maior mistério da TV brasileira.

Tieta (Betty Faria)

de “Tieta” (1989)

Inspirada no romance de Jorge Amado, “Tieta” conta a história de uma garota que, após ser expulsa de sua cidade pelo seu estilo de vida, volta depois de 20 anos com uma fortuna no bolso e sede por vingança. Betty Faria interpreta brilhantemente as inúmeras facetas de Tieta — mulher sensual, planejadora racional, amante apaixonada e madame rancorosa.

Natasha Rebelo (Cláudia Ohana)

de “Vamp” (1991)

Um aspirante a rockstar vende sua alma para o diabo para conseguir sucesso em sua carreira musical. Troque o diabo por um sinistro, e hilário, vampiro e você terá a trama de “Vamp”. Na novela, Cláudia Ohana interpreta Natasha Rebelo, uma cantora que busca uma maneira de fugir do acordo que fez com conde o Vladymir Polanski, interpretado por Ney Latorraca. Ohana vai fundo no papel de rockstar e até hoje é referência gótica para muita gente.

Ruth e Raquel (Glória Pires)

de “Mulheres de Areia” (1993)

Glória Pires nasceu para interpretar as gêmeas Ruth e Raquel. Quem diz isso não é a Gama e sim Ivani Ribeiro, autora da novela Mulheres de Areia. Ivani queria Glória nos papéis centrais a todo custo e chegou a adiar a produção para que seu desejo ocorresse. Dito e feito, a gêmea má e a gêmea boa entraram para história como duas das mais importantes personagens da TV brasileira. Entre brigas, paixões e muitas reviravoltas, Glória Pires teve que trabalhar dobrado em um dos seus papéis mais celebrados.

Alexandre Toledo (Guilherme Fontes)

de “A Viagem” (1994)

O olhar cruel e vazio de Guilherme Fontes é lembrado até hoje, seja por reprises da novela “A Viagem”, por fãs saudosistas ou pelos memes da internet. Interpretando o perturbado jovem que acaba se suicidando Alexandre Toledo, Fontes encarnou como uma assombração que perseguia aqueles que julgava responsáveis por seu trágico destino. Segundo o ator, até hoje as pessoas se referem a ele pelo nome da personagem.

Babalu (Letícia Spiller) e Raí (Marcello Novaes)

de “Quatro por Quatro” (1994)

Quando falamos em casal clássico da teledramaturgia brasileira, falamos em Babalu e Raí. Interpretados por Letícia Spiller e Marcello Novaes. Os dois, que foram casados na vida real e até filho tiveram,criaram uma química tão forte entre as duas personagens que incluímos nessa lista como uma coisa só. Sempre em pé de guerra, o mecânico Raí e a manicure Babalu brigavam na mesma medida em que se amavam.

Esteban, o Pescador Parrudo (Marcos Pasquim)

de “Kubanacan” (2003)

Um homem sem memória cai dos céus, pousando em uma ilha misteriosa comandada por um terrível ditador. Vendo o sofrimento do povo, ele resolve se vingar dos governantes autoritários em uma trama repleta de identidades secretas, alter egos sombrios e viagem no tempo. Um roteiro Hollywoodiano? Não. A novela Kubanacan conquistou o público com sua trama surreal e com o carisma de Marcos Pasquim — e do seu peitoral, sempre nu –, que interpretava três personagens: Esteban, Dark Esteban e León Allende Rivera. O papel do Pescador Parrudo cimentou a figura de Pasquim como protagonista das novelas da sete e até hoje é relembrado com carinho por fãs e pelo próprio ator.

Nazaré Tedesco (Renata Sorrah)

de “Senhora do Destino” (2004)

O sabre de luz está para Darth Vader assim como as escadas estão para Nazaré Tedesco. Cruel, a antagonista de “Senhora do Destino” — interpretada por Renata Sorrah — aterrorizou o público brasileiro com sua escadaria, suas tesouras e seu samba. A vilã que amamos odiar fez até sucesso internacional com o meme “Confused Math Lady”, mas todo bom brasileiro sabe que foi o sequestro da filha de Maria do Carmo que a fez famosa.

Foguinho (Lázaro Ramos)

de “Cobras & Lagartos” (2006)

Indicado ao Emmy por seu papel em “Cobras & Lagartos”, Lázaro Ramos marcou época com Foguinho. Malandro, o personagem foi inspirado em Macunaíma e encantou o público brasileiro com suas falcatruas e seu bigode loiro. Confundido com o herdeiro de uma grande fortuna, Foguinho acaba ganhando controle das riquezas do milionário Omar Pasquim, incluindo a luxuosa loja Luxus. Apesar de passar boa parte da trama fingindo ser outra pessoa, a personagem tem um bom coração e se redime no final da novela.

Bebel (Camila Pitanga)

de “Paraíso Tropical” (2007)

Uma mulher de “catiguria”. Era assim que Bebel, personagem de Camila Pitanga, definia a si mesma em “Paraíso Tropical”. A garota de programa roubou a cena na novela e catapultou Camila ao estrelato. Seu romance com o empresário Olavo, interpretado por Wagner Moura, ainda é celebrado na internet, e os dois são tidos como um dos casais com maior química na TV.

Carminha (Adriana Esteves)

de “Avenida Brasil” (2012)

“Me serve, vadia.” Poucos momentos foram tão celebrados em 2012 quanto a cena em que Nina, interpretada por Débora Falabella, se vinga de Carminha, interpretada por Adriana Esteves. O sucesso estrondoso da novela se deve em parte ao trabalho de Esteves, que foi capaz de criar uma vilã carismática e desprezível, tudo ao mesmo tempo. Seja enganando Tufão (Murilo Benício), conspirando com Max (Marcello Novaes) ou tentando se vingar de Nina, Carminha é uma das mais icónicas vilãs das novelas brasileiras.

Lurdes (Regina Casé)

de Amor de Mãe (2019)

Em coração de mãe sempre cabe mais um. Não há frase que melhor defina Lurdes, personagem de Regina Casé em “Amor de Mãe”. Com quatro filhos, a babá é uma figura carinhosa e batalhadora e Casé dá um show ao interpretá-la. A busca por Domênico, seu filho perdido, movimenta toda a trama da novela e demonstra o que de fato é o amor de uma mãe. O folhetim ainda não se encerrou, mas Lurdes já faz parte do panteão de personagens memoráveis das novelas brasileiras.

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