Qual o preço do videogame no Brasil? — Gama Revista
Isabela Durão / La Red Games

Quanto custa jogar videogame no Brasil?

Com a chegada da nova geração de videogames, o preço dos consoles volta a assustar os brasileiros. Gama relembra o passado para entender qual o preço de se jogar videogame no Brasil

Daniel Vila Nova 18 de Setembro de 2020

A cada nova geração de videogames um medo familiar ronda os brasileiros interessados pelos novos consoles. Acostumados a pagar caro pela nova tecnologia — o país teve o PlayStation 4 mais caro do mundo –, os anúncios da nova geração sempre carregam um gosto agridoce — por um lado, a excitação com as novas tecnologias, novos jogos e novos serviços oferecidos. Por outro lado, a preocupação com o bolso e a certeza de que o valor a se desembolsar na próxima máquina será salgado.

Os preço dos novos consoles da Microsoft e da Sony já foram anunciados essa semana e serão lançados no mês de novembro. Se você deseja o novo Xbox, terá que desembolsar US$ 499 — ainda não houve anúncio do valor oficial no Brasil. O PS5 chega ao mercado com o mesmo valor, mas já há preço brasileiro: R$ 4999.

Caro? Sim, mas acredite: mesmo com esse valor o Brasil não tem o PS5 mais caro do mundo. O problema não é exclusivo do país, afinal a nova geração será a mais cara de todas em todo o planeta. Para Bruno Silva, editor-chefe do The Enemy — portal de games do Omelete –, o aumento do preço tem uma explicação: videogames são cada vez mais caros de se produzir.

“A medida que a tecnologia dos aparelhos foi ficando mais complexa, as peças passaram a ser mais sofisticadas. Isso encareceu a produção”, diz Silva. Apesar do aumento global do preço, mercados como o brasileiro sentem ainda mais o impacto. “Aqui o videogame também é caro por conta da nossa realidade. A alta do dólar é o principal fator de encarecimento, mais até do que impostos.”

Para o jornalista, é necessário levar em conta o poder de compra de cada sociedade. “As fabricantes de consoles olham — assim como muitas empresas de tecnologias — primeiro para o mercado americano, europeu e asiático. Só depois elas vão olhar para outros mercados.”

Nos últimos seis anos, o preço dos jogos passaram a aumentar sucessivamente — coincidindo com a desvalorização do real: de 200 foram para 250, para 280 e hoje já estão na casa dos 300 reais. “Com o console não vai ser diferente”, afirma Silva.

“O começo da nova geração deve ser uma realidade distante do brasileiro, como normalmente é. Nós estamos saindo da geração do PS4 para o PS5, mas o brasileiro ainda está no PS3, muitos até no PS2”, diz o jornalista. De acordo com o levantamento da “Pesquisa Game Brasil 2020”, o terceiro console mais popular do país é o PS2, lançado 20 anos atrás.

Com a alta do dólar, a recessão econômica e os videogames mais caros da história, o futuro dos jogos eletrônicos no Brasil não parece muito promissor. Mas será que sempre foi assim?

A medida que a tecnologia dos aparelhos foi ficando mais complexa, as peças passaram a ser mais sofisticadas. Isso encareceu a produção

Jeitinho brasileiro

Para Silva, quando falamos da história dos videogames no Brasil falamos de duas histórias: a oficial e a paralela. Durante a década de 80, alguns videogames até chegaram no Brasil — mas eram caros e inacessíveis. Grande parte deles sequer dava as caras oficialmente, sendo relíquias de tios e primos que viajavam para o exterior e compravam os aparelhos.

O mercado brasileiro, entretanto, se adaptou e criou uma alternativa que fundamentou as condições para que os jogos eletrônicos se popularizassem e alcançassem camadas sociais menos favorecidas.

A série “Paralelos”, criada por Pedro Falcão e Hugo Haddad, conta um pouco dessa história. Sem representação oficial no país e impedidos de importar tecnologia estrangeira por conta da ditadura militar, os lojistas brasileiros passaram a apostar em modelos clonados de consoles estrangeiros. Atari? No Brasil havia o Dynavision. NES? Aqui jogávamos Phantom System.

“É difícil pensar na história do videogame no Brasil sem falar da pirataria. A pirataria, de um ponto de vista legal, é ruim. Mas ela foi responsável pela popularização dos videogames no país”, afirma Silva. Para ele, a pirataria faz parte da cultura de videogames do Brasil. “O mercado de videogames oficial não apareceu do nada quando as empresas começaram a se instalar oficialmente no país. Já havia uma cultura aqui antes.”

No começo do século, os clones deixaram de ser tão populares — mas não a pirataria de jogos. Lançado em 2000 no Japão, o PlayStation 2 só chegou oficialmente no Brasil em 2009 — três anos depois do lançamento do PS3. Entretanto, a facilidade com que os jogos eram pirateados — era possível comprar jogos por 10 reais em camelôs — tornou o console um sucesso em solo brasileiro.

Com a chegada oficial das empresas no Brasil e a criação de barreiras anti piratarias mais fortes, o mercado paralelo foi enfraquecido. Mas se a acessibilidade aos jogos sofreu por um lado, o aumento de poder de consumo do brasileiro durante os anos 2000 até metade dos anos 2010 tornou os games acessíveis para muita gente.

O mercado brasileiro passou a receber atenção privilegiada das marcas, que além de produzirem seus consoles aqui apostavam em dublagens e localizações em português — prática que continua até hoje.

O conto de fadas não durou muito tempo. “Nós tomamos um susto quando o PlayStation 4 veio oficialmente por R$ 4000 em 2013, mesmo com o dólar na casa dos dois reais. Como a economia em 2014 ainda ia relativamente bem, esse preço baixou. Mas hoje, o cenário não é muito animador.”

Um celular na mão e uma ideia na cabeça

O preço assusta, mas a verdade é que a maior parte do público gamer joga em outra plataforma — o celular. Ainda de acordo com a “Pesquisa Game Brasil 2020”, 52% do público brasileiro tem o smartphone como sua plataforma favorita para jogar. Acessíveis, leves e relativamente baratos se comparados com consoles, os celulares se tornaram o meio de acesso que os brasileiro encontram para jogar jogos eletrônicos.

“Um Nintendo Switch, um PS5 e um Xbox Series X não são acessíveis no Brasil. Mas isso não é videogame, o que precisa mudar é nossa visão de que os games estão nos consoles. Videogame são sim acessíveis no Brasil”, diz Gus Lanzetta, jornalista, co-fundador da Half Deaf e da Sociedade Histórica de Videogames do Brasil, se referindo ao uso do smartphone para jogar.

Lanzetta aponta que o jogo exclusivo mais vendido do PS4 foi “Uncharted 4: A Thief’s End” (2016), com 16 milhões de cópias. Como comparação, o “Fortnite” (2017), um jogo e celular, tem uma base de 350 milhões de jogadores. “Atrelar videogames somente aos consoles não condiz mais com a realidade, seja na quantidade de pessoas que estão jogando ou na plataforma onde elas estão jogando”.

Se você deseja jogar o jogo mais popular do país atualmente, tudo o que você precisa é um smartphone simples. Jogo mobile mais baixado no Brasil em 2018 e 2019, “Free Fire” (2017) é um fenômeno graças a sua simplicidade.

Ele segue o modelo “free to play”, onde o acesso ao jogo é gratuito mas há transações monetárias dentro do game que lhe permitem acessar outros conteúdos. Esses jogos também sofrem atualizações constantes, que sempre vem carregadas de novidades.

“As empresas tendem a investir em jogos que duram mais tempo, atualizando o jogo com novos conteúdos para que os consumidores passem o maior tempo possível jogando”, diz Silva.

Jogos como serviço são cada vez mais comum no cenário de games. As empresas buscam maneiras de monetizar jogos além do preço inicial do produto. Bruno Silva acredita que o comportamento do mercado tende a favorecer os brasileiros, oferecendo uma barreira de entrada mais baixa para o mundo dos games.

A luz no fim do túnel?

Cientes de que seus produtos são caros até para os mercados mais ricos, Sony e Microsoft buscam maneiras de torná-los mais acessíveis. Uma das apostas são modelos da nova geração mais econômicos: uma versão menos potente do Series X chamada Series S custa U$299 nos EUA. Já o PS5 tem uma versão que não comporta mídia física, o que torna o produto 500 reais mais barato.

Nos EUA, a Microsoft formulou uma espécie de consórcio — que ainda não foi confirmado no Brasil — para seu aparelho. Com o nome de “Xbox All Access”, é possível pagar uma taxa mensal de U$24 durante dois anos e ter acesso a um console novo. O plano vem também como o “Xbox Game Pass” — esse já disponível no Brasil –, um serviço mensal de assinatura que te oferece um catálogo rotativo de jogos para download.

“Para mercados como o brasileiro, em que o preço de um jogo é muito caro, isso é um ativo inestimável para convencer a pessoa a comprar o seu videogame. É possível colocar uma quantidade de jogos enorme na mão das pessoas a um preço muito reduzido”, afirma Silva.

“Hoje, o console precisa ser mais acessível e ter diferenciais que justificam o investimento”, diz Lanzetta. “As empresas estão conscientes de que os consoles não são mais esse grande objeto de desejo. Se as pessoas olham para um console e pensam que ele está muito caro, elas vão se virar para o celular ou para o computador.”

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