Como descansar a mente e o corpo? — Gama Revista
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Semana

Outros jeitos de descansar

Com a ansiedade e o estresse em alta pelo mundo, especialistas compartilham dicas de como descansar melhor nosso corpo e nossa mente

Leonardo Neiva 22 de Novembro de 2020

Outros jeitos de descansar

Leonardo Neiva 22 de Novembro de 2020
Twitter/Reprodução

Com a ansiedade e o estresse em alta pelo mundo, especialistas compartilham dicas de como descansar melhor nosso corpo e nossa mente

Imagine que você, após uma rotina intensa e cansativa de trabalho, chegou em casa e caiu direto na cama, sem nem despir a roupa que usou ao longo de todo o dia. Ou então que, depois de ficar desde as sete da manhã trabalhando em home office, conectou o streaming para passar horas em frente à TV assistindo aquela sua série preferida. Pode ser ainda que, estressado com alguma coisa ou alguém, você tenha decidido ficar longos minutos sentado no sofá sem fazer nem dizer nada, procurando abstrair. Ou até, para tentar relaxar, gastou horas navegando pela timeline de alguma rede social de sua escolha.

O que o senso comum provavelmente lhe diria em qualquer um desses casos é que você está descansando após enfrentar cenários física ou psicologicamente extenuantes. O problema é que nem todos eles lhe trarão qualquer tipo de descanso. Na verdade, alguns podem até acentuar a fadiga que você sente, dependendo de como estiver se comportando.

A médica americana Saundra Dalton-Smith, pesquisadora do descanso e da relação de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, defende que há sete tipos diferentes de descanso (físico, mental, espiritual, emocional, sensorial, social e criativo) , dentre os quais o sono representa apenas uma pequena parcela. “Dormir faz parte do descanso físico, só que de forma passiva. Também existem componentes ativos do descanso físico, como ioga e drenagem linfática, atividades que ajudam o corpo a se curar e permanecer forte”, diz Dalton-Smith, que também é palestrante motivacional e autora do livro “Sacred Rest” (descanso sagrado), sem tradução para o português.

Descansar tem a ver com restaurar as energias em áreas que ficaram esgotadas, o que geralmente significa que você deve fazer algo para sanar uma ferida

Jogar sobre o sono toda a responsabilidade pelo descanso diário, portanto, significaria deixar de lado outras formas essenciais de relaxar. Hábitos como limpar a mente de vez em quando — importante para ter um processo mental saudável e um sono de maior qualidade —, manter contato e conversar com amigos ou até ter um ambiente no qual é possível ser totalmente honesto quanto às suas emoções — o que agrega ao descanso emocional — são também cruciais para reduzir o estresse e o cansaço no dia a dia.

“O que as pessoas tendem a fazer errado é achar que o descanso só acontece quando param de trabalhar ou ficam sem fazer nada. Então elas não percebem que descansar tem a ver com restaurar as energias em áreas que ficaram esgotadas, o que geralmente significa que você deve fazer algo para sanar uma ferida”, explica a pesquisadora. De acordo com ela, trata-se não de tirar longas horas para dormir depois que o dia termina, mas de incorporar técnicas de descanso à rotina, de maneira que a pessoa não pense que precisa pedir demissão ou sair de férias toda semana para finalmente poder relaxar.

Trata-se de incorporar técnicas de descanso à rotina, de maneira que a pessoa não pense que precisa pedir demissão ou sair de férias para poder relaxar

Maratonar uma série na Netflix ou ficar rodando eternamente o feed do Facebook ou Instagram também não entram na categoria de descanso. Enquanto as redes sociais podem ser uma grande fonte de estresse se usadas em excesso, séries ou filmes de gêneros mais frenéticos, como ação ou terror, principalmente se vistos antes de se deitar, podem levar a uma noite inquieta, atrapalhando o período de descanso noturno.

O descanso de todos os dias

O que ajuda mais a se estressar menos? Criar uma lista detalhada com horários e tempo certos para realizar todas as tarefas do dia ou a milenar técnica de lembrar do que é preciso fazer e simplesmente ir fazendo? Embora a primeira opção pareça muito mais segura, na verdade não existe uma resposta certa para essa pergunta, de acordo com o psicólogo Yuri Busin, especialista em terapia cognitiva comportamental.

“O autoconhecimento para entender qual dessas duas formas de organização melhor se adequa ao seu perfil é o que vai definir o melhor caminho para a pessoa”, diz Busin. Segundo ele, porém, o método mais flexível tem sim uma desvantagem. Olhar uma lista extensa de afazeres pode gerar medo de não conseguir completá-los, angústia que é consideravelmente menor frente a um cronograma claro e bem planejado.

Um problema para quem completa a maior parte de sua rotina em casa, acentuado pela pandemia e a ascensão do home office, é desenvolver atividades cansativas ou estressantes em cômodos normalmente usados para relaxar, como o quarto ou a sala. “Tem gente que deita na cama para pensar. A cama é para dormir, não para pensar. Se você começa a usar com outro propósito, seu comportamento pode atrapalhar na hora de dormir”, afirma o psicólogo.

Quem cedo madruga

A princípio visto como uma grande vantagem por evitar a necessidade de acordar cedo para se arrumar ou enfrentar o trânsito apocalíptico das grandes cidades, o home office hoje parece ter vindo mesmo para embaralhar ainda mais as relações de trabalho. “Muitas pessoas já não sabiam bem como estabelecer fronteiras saudáveis entre o trabalho e a vida pessoal. Ver as duas coisas se mesclando, sem um plano efetivo de integração, só fez com que elas sofressem ainda mais”, aponta Saundra Dalton-Smith.

A especialista sugere algumas mudanças que podem ser úteis para reduzir o cansaço e o estresse de quem trabalha o dia todo em casa. Uma delas é prestar atenção na postura, já que, em muitos casos, o ambiente doméstico não é apropriado para horas e mais horas de atividade profissional. Então, vale a pena repensar as ferramentas disponíveis, mudar a posição do computador ou da cadeira e fazer pequenas pausas ao longo do dia para aliviar a tensão dos músculos e do pescoço.

Quando você consegue ver as expressões e os movimentos corporais do seu interlocutor, o nível de descanso social é maior

Outra dica é que reuniões online tendem a ser menos estressantes e cansativas se todos estão com suas câmeras ligadas. “Quando você consegue ver as expressões e os movimentos corporais do seu interlocutor, o nível de descanso social é maior”, explica Dalton-Smith. Até mesmo usar imagens de mares, rios ou praias como protetores de tela podem tornar seu dia de trabalho mais relaxante. “Pesquisas mostram que observar grandes massas de água estimulam sua criatividade.”

Além de estabelecer horários rígidos de entrada e saída do trabalho e fazer pausas curtas ao longo do dia, o psicólogo Yuri Busin recomenda que as empresas criem mais mecanismos de contato social entre os funcionários, como fóruns de debate e encontros virtuais para falar de assuntos alheios ao trabalho. Mesmo com restrições de espaço, ele também considera importante que o trabalhador determine um espaço específico para suas atividades profissionais. “Ainda que seja na sala de estar, a pessoa deve retirar e desligar tudo ao final do dia, para que não se sinta trancado num escritório até em suas horas livres.”

O pai tá off

Além de gerarem ansiedade, as mídias sociais podem tornar mais difícil dormir bem. Celulares, por exemplo, avisam sobre o recebimento de mensagens, gerando um anúncio luminoso que pode fragmentar o sono, explica o médico do sono George Pinheiro. O ideal, de acordo com o especialista em medicina do sono, é evitar deixar o aparelho perto da cama durante a noite, afastando de vez a ansiedade que ele causa. Sabendo, no entanto, que muitos resistem a se afastar de seus aparelhinhos mesmo quando inconscientes, Pinheiro dá como opção deixar ligada a função não perturbe do eletrônico.

Outro aspecto das mídias sociais que pode prejudicar a tranquilidade de qualquer cidadão é o compartilhamento constante de notícias. E num momento como o de agora, marcado por uma pandemia de impacto global, ele pode ser ainda mais danoso à nossa saúde mental. “É natural que hoje tenhamos muitas notícias difíceis. Se está difícil lidar com elas, o melhor é fazer algum tipo de controle do acesso, para que não cause efeitos de ansiedade, medo e até pânico.”

Se está difícil lidar com as notícias, o melhor é fazer algum tipo de controle do acesso, para que não cause efeitos de ansiedade, medo e até pânico

Para enfrentar esse bombardeamento constante de informações, Dalton-Smith aplica uma estratégia que chama de blocos de tempo. Ou seja, se há coisas que podem te fazer mal, mas são obrigatórias por questões profissionais ou sociais, como o email e as redes sociais, ela sugere restringir o acesso durante determinados períodos do dia. “Meu email, por exemplo, eu abro três vezes ao dia. O primeiro bloco de tempo é o mais longo, porque é quando leio e respondo a maioria deles. Dura cerca de 30 minutos. Os outros dois são curtos e servem apenas para checar se não chegou nada urgente. Faço o mesmo com as redes sociais e as páginas de notícias.”

A ideia é controlar esse acesso e impedir que as frequentes notificações ao longo de todo o dia drenem sua energia. Até porque, grande parte das vezes, elas só estão te avisando que alguém que você segue nas redes postou uma foto curtindo com os amigos ou uma imagem da sobremesa que comeu no almoço do último sábado. Coisas pelas quais certamente não vale a pena perder o sono.