Como prever o futuro? Eles conhecem alguns caminhos — Gama Revista
Como vai ser o amanhã?
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Semana

Previsões para um futuro incerto

Um mergulho nos processos e previsões de profissionais que vivem de imaginar, intuir ou antecipar o que nos aguarda

Willian Vieira e Daniel Vila Nova 16 de Agosto de 2020
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Previsões para um futuro incerto

Um mergulho nos processos e previsões de profissionais que vivem de imaginar, intuir ou antecipar o que nos aguarda

Willian Vieira e Daniel Vila Nova 16 de Agosto de 2020

O que vai acontecer mês que vem ou daqui a um ano? O que nos aguarda na próxima década? Em tempos de incerteza extrema, quando o futuro parece se esfacelar diante dos nosso olhos, é natural que busquemos respostas em toda parte – sobretudo de quem vive de prever o futuro.

Gama conversou com especialistas na ciência, na ficção e na pesquisa de tendências para entender seus processos. Veja o que eles têm a dizer sobre esse momento de incerteza. E, claro, sobre o futuro.

Carlos Nobre, climatologista


O exemplo pode parecer trágico, mas o cientista garante que é ao apresentar com muita clareza os riscos que a ciência contribui para as soluções. Apesar de estar com a cabeça sempre no futuro, Nobre não trabalha com previsões mas sim com projeções. Seu trabalho consiste em projetar inúmeros cenários possíveis da mudança climática no Brasil e no mundo.

Em 2015, o acordo de Paris foi firmado com base em projeções climáticas bem conhecidas — o aumento da temperatura média da terra não poderia passar de dois graus e idealmente ficaria abaixo de 1,5. Para isso, a redução das emissões de gases globais deveria cair em 70% até 2050, chegando a zero até 2100. Apesar da enorme aderência — 195 países assinaram o acordo –, as metas voluntárias não foram ambiciosas o suficiente.

“Se nós considerarmos as metas de Paris, chegaríamos ao final do século cerca de três graus mais quentes, um grau a mais do que o mínimo desejado”, afirma Nobre. As taxas de crescimento das emissões globais passaram a diminuir após o acordo – o que animou os cientistas. Em 2017, elas quase se estabilizaram. Entretanto, voltaram a subir em 2018 e as pré-estimativas para 2019 indicam um aumento. E então, a covid-19 chegou.

Com o mundo trancado em casa, a estimativa para 2020 é que as emissões caiam entre 5% a 7%. Apesar da queda, o valor projetado para 2020 não é o suficiente para que a temperatura mundial fique abaixo de 1,5 graus até 2050. “Pós-covid, nós teremos que ter uma atitude revolucionária da redução das emissões, algo que nós ainda não vimos”, diz o cientista.

Pós-covid nós teremos que ter uma atitude revolucionária da redução das emissões, algo que nós ainda não vimos

Ecoansiedade? Medo do futuro? Nada disso. Carlos Nobre nunca esteve tão otimista. O cientista de 69 anos aponta para dois fatores que o fazem acredita em um futuro sustentável: o primeiro, ele brinca, tem relação com a idade. “O grau de otimismo de pessoas na faixa etária de 60, 70 e 80 anos tende a aumentar. Hoje, sou mais otimista do que era dez anos atrás.” O outro motivo, segundo o cientista, é a nova geração. “Eu tenho visto o movimento dos jovens, a geração Greta. Se ela simbolizar uma transformação radical dos jovens — que daqui há dez anos estarão no mercado de trabalho — nós teremos um futuro muito melhor.”

O cientista vê o movimento pela sustentabilidade do planeta crescendo a cada ano, convencendo cada vez mais jovens de que é perfeitamente possível ter uma excelente qualidade de vida de maneira sustentável. “Essa mudança é economicamente e tecnologicamente viável, mas temos que dar velocidade a essas transformações.” E é aí que mora o grande problema. Para o cientista, a grande resistência vem de setores econômicos que se sentem prejudicados pelas mudanças. “Eles financiam a classe política que não deseja essa transição, financiam movimentos negacionistas do clima. É uma disputa de poder político”, diz.

Da terra plana a cloroquina, os últimos dez anos viram um aumento global de movimentos negacionistas da ciência. Alguns têm origem religiosa ou filosófica, mas Nobre sabe que a natureza do movimento anti-mudanças climáticas é econômica. “Nos EUA, o movimento foi totalmente financiado pela indústria do petróleo. Eles fazem o mesmo que a indústria do tabaco fez nos anos 1960, semeiam a dúvida. Pagam pseudocientistas para induzir a dúvida e ao negacionismo”, afirma o cientista.

Os jovens embarcarão em um futuro onde será possível dizer ‘os meus filhos terão um mundo mais sustentável do que os meus pais’

“As empresas, seja nos EUA ou no Brasil, pagam porque o interesse econômico de curto prazo delas é vender mais. Elas estão se lixando para os riscos de longo prazo”, diz. “A indústria fóssil tem que entender que ela vai perder espaço nesse novo mundo. A agricultura expansionista, como a que acontece no Brasil, não é mais o futuro da agricultura”, afirma Nobre.

A indústria de tabaco bem que tentou, mas não conseguiu. Nobre, como bom cientista, baseia seu otimismo nos dados. Nas décadas de 1960 e 70, o Brasil tinha 42% da população de fumantes. Hoje, o Brasil está entre os cinco países com a menor taxa de fumantes adultos no mundo — 13%. “Quando eu olho esses dados, eu fico esperançoso. A ciência comprovou que o cigarro causava inúmeras doenças”, afirma.

“A ciência também irá convencer as pessoas de que há sim um caminho para a sustentabilidade.” A encruzilhada pode ser perversa, mas o cientista acredita em um futuro melhor. “Os jovens embarcarão em um futuro onde será possível dizer ‘os meus filhos terão um mundo mais sustentável do que os meus pais’.”

Anne Lise Kjaer, futurista especialista na previsão de tendências para empresas


É possível visualizar o futuro por meio de cores, materiais e conceitos? Foi a partir dessa pergunta que Anne Lise Kjaer encarou as mudanças e tendências que se escondiam nas próximas décadas e passou a analisá-las de maneira profissional. O trabalho da futurista dinamarquesa consiste em ajudar organizações e indivíduos a navegar o futuro.

Em 1988, quando ela fundou a “Kjaer Global” na Dinamarca, a empresa era focada em design. Utilizando o seu conhecimento na área, a futurista passou a se questionar o que vinha antes do design e foi na procura por essas respostas que Kjaer encontrou sua vocação na previsão de tendências.

A empresa oferece palestras, workshops e cursos que seguem as diretrizes da companhia: pessoas, planeta, propósito e lucro. “Ao longo dos anos, a Kjaer Global desenvolveu uma série de ferramentas que auxiliam empresas a entender tendências em perspectivas multidimensionais e ver o futuro sob uma nova luz”, diz a Gama.

A tecnologia será central na recriação de sociedades e modelos de negócios prósperos, facilitando o bem-estar, a performance e o crescimento de todos nós

O futuro pode ser assustador, as inúmeras possibilidades e caminhos são tantas que as pessoas podem se sentir ansiosas. Mas para Kjaer, a pergunta chave para desvendar o futuro é “e se?”. “É necessário sair da zona de conforto e passar a imaginar o que acontecerá em 2, 5, 10 e até 20 anos no futuro”, afirma.

“Não existe solução mágica ou previsão ousada que possa consertar o mundo. É um processo contínuo, onde você cria o futuro que gostaria de viver em uma base diária. É da nossa natureza evoluir e progredir”, diz Kjaer.

Com a chegada da covid-19, previsões e projeções para o futuro se tornaram valiosíssimas – em tempos tão incertos, todos desejam um mapa para navegar adiante. De acordo com Kjaer, diversas empresas e indivíduos se voltaram a sua organização em busca de soluções.

Mas ela alerta: para as coisas darem certo é necessário entender que nada vai acontecer do dia para a noite. “É um processo interativo, onde uma nova maneira de pensar, fazer e ser é necessária”.

A onda de polarizações e fragmentações despertaram preocupações relacionadas a valores como liberdade, confiança, bem-estar, comunidade e segurança financeira

O impacto da pandemia e suas consequências apresentam um enorme desafio. “O sistema e as ideias nas quais baseamos nosso trabalho, vida e lazer estão sob revisão. A onda de polarizações e fragmentações despertaram preocupações globais relacionadas a valores chaves da nossa sociedade como liberdade, confiança, bem-estar, comunidade e segurança financeira”, diz Kjaer.

Perguntas fundamentais ecoam pelo mundo: “Como equilibramos o bem econômico com o bem social? Como o mundo pós-pandemia será?”, diz. “O futuro sempre foi e sempre será incerto, essa é a natureza da vida. 2020 ficará na história como um ano onde nosso mundo acelerado foi forçado a parar, obrigando a todos a fazer um balanço e reavaliar o futuro.”

Um ótimo exemplo de como grandes eventos — tal qual a pandemia — afetam projeções e previsões é o estudo “Future of the Workplace 2030+”, realizado pela Kjaer Global em julho de 2019. “Nós revisitamos o estudo um ano depois e destacamos as tendências aceleradas pela pandemia, além de adicionar algumas direções para ficar de olho”. Para a futurista, o estudo demonstra como temos de ajustar nossas previsões de maneira contínua, mantendo-as relevantes e vivas.

Em This Changes Everything – Work in a Post Pandemic World — a revisão de Future of the Workplace 2030 –, a Kjaer Global retoma algumas de suas projeções para o espaço de trabalho em 2030. Os escritórios, que se tornariam mais inclusivos e otimizados, podem desaparecer com a pandemia — dando espaço a ambientes reduzidos ou digitais.

Já a transição para o digital e a utilização de novas tecnologias – algo que não é novidade — se tornará muito mais veloz. “Uma das certezas que temos é a de que a tecnologia será central na recriação de sociedades e modelos de negócios prósperos, facilitando inclusive o bem-estar, a performance e o crescimento de todos nós”, diz Kjaer.

Com o novo coronavírus, o futuro chegará mais rápido. As dificuldades criadas pela pandemia obrigam a realização de mudanças velozes e mais radicais. “Ao invés de continuar apagando o fogo no presente, devemos criar mapas de longo prazo para o futuro.”

Roberto Kraenkel, físico


Em 2015, as pessoas perguntavam ao professor de física da Unesp Roberto Kraenkel se ia chover — ou melhor, se a chuva faria o nível do sistema Cantareira, que abastece São Paulo e vivia sua pior seca. À época, ele criara com colegas um sistema para prever os cenários possíveis na crise hídrica. “Hoje me ligam perguntando quando será o pico da covid-19”, diz. “E eu respondo que depende de muita coisa, sobretudo do governo e do comportamento da sociedade — o que, no Brasil de hoje, é algo impossível de prever.”

Doutor em física teórica, Kraenkel é amigo dos números e das equações que garantem resultados certos em experimentos científicos controlados. Nos últimos 15 anos, ele se especializou em “sistemas complexos” de modelagem em ecologia e epidemiologia. Alimentados por fontes de dados, eles permitem projetar o que ocorrerá em dado cenário. Hoje faz parte do Observatório Covid-19 BR, que monitora a evolução da doença no país.

Todos gostariam que a gente pudesse prever exatamente que tempo fará ao meio dia de um dia daqui a seis meses, mas isso é impossível. O que dá para fazer é criar cenários

Quanto mais complexo o modelo, explica o professor, mais refinadas as equações e variadas as fontes de dados, diz, maior a precisão das previsões. “Mas as fontes de dados precisam dar conta de alimentar o modelo. Pois é preciso entender e explicar bem o passado para poder prever o futuro.” Não é o caso do Brasil agora. Kraenkel e seus colegas alimentam seus modelos com dados do SUS, como hospitalizações e óbitos. Dados de casos (infectados) não são confiáveis. “Tem cidades que não registram os casos no sistema.” E mesmo os dados do Datasus não são garantias. “O governo muda as regras várias vezes, então a série histórica não é confiável. Fica difícil fazer ciência com isso.” Ainda mais prever alguma coisa.

A física é uma ciência da previsão: ela prevê o comportamento de uma situação se as variáveis forem bem definidas. Mas o físico também é intuitivo: se trabalha com sistemas que mudam o tempo todo, adentra o campo da imprevisibilidade e da incerteza. Então passa a olhar o futuro como algo impreciso, mas não totalmente imprevisível. “Todos gostariam que a gente pudesse prever exatamente que tempo fará ao meio dia de um dia daqui a seis meses, mas isso é impossível. O que dá para fazer é criar cenários.”

“Não se sabe nem o grau de efetividade do uso de máscaras, a importância do contágio nas escolas, como cada faixa etária transmite a doença ou da imunidade conferida pelo contato com o vírus.” Mas agora é justo quando a população mais espera respostas da ciência. “Vivemos hoje uma situação inédita de expectativa em relação à ciência”, afirma Kraenkel. Mas as pessoas buscam certezas absolutas, garantias que a ciência profissional não pode oferecer no curto prazo. “Acho que há um tom messiânico, religioso nesta sede por certezas. Vide o caso da cloroquina. Mas o cientista não pode ser visto como um religioso que dá garantias de ir para o céu ao morrer se fizer isso ou aquilo. Não existe um céu científico. Existe o melhor que a ciência pode dar e isso é limitado. O rigor e o método não podem ser abandonados.”

Não existe um céu científico. Existe o melhor que a ciência pode dar e isso é limitado. O rigor e o método não podem ser abandonados

O mais difícil, assim, é justamente convencer a população a acreditar na ciência sem essa garantia. “Voltamos a batalhas antigas, como a vacina. Hoje, boa parte da população acredita em fantasias como a cloroquina, nega a questão climática, a ciência simplesmente não existe para elas. E a falha da ciência em comunicar é também responsável por isso.”

A ciência é complexa, as respostas têm variáveis, não há certezas no curto prazo. O que resta fazer? “Hoje, quando se comunica com o público amplo, o cientista acaba pedindo um voto de confiança, porque é simplesmente impossível de explicar uma situação sem mostrar um monte de dados”, diz. E, em boa parte deles, não há certeza. “Nesse sentido você se compara ao padre, quando diz: acredite em mim, a verdade é essa. Mas sem ter como demonstrar de forma clara e certa, você precisa ser credível.” E torcer para funcionar.

Luiz Bras, escritor de ficção futurista


“A realidade está tão literária, tão mais fantástica que a arte, que ficou difícil para um escritor conseguir surpreender. Pode pôr aí: Luiz Bras, escritor, teme pela sua profissão.” Quem diz é Nelson de Oliveira — Bras é seu pseudônimo quando publica ficção futurista. Quando escreveu “Distrito Federal” (Patuá, 2014), rapsódia cyberpunk ambientada num Brasil sem floresta, devastada por um governo totalitário, e cujo governo é dominado pela corrupção, ele buscava “algo explosivo” em termos de realidade ficcional. “Agora, já não consigo pensar numa ficção que consiga impactar o leitor da maneira como a realidade está fazendo.” Vide o governo atual, diz. “Damares, Weintraub, Bolsonaro: num romance, eles soariam inverossímeis. É como se Macunaíma fosse ministro da economia. Eu realmente queria ter tido essa visão de futuro para poder ter escrito isso que é o Brasil hoje.”

Em sua novela “Não Chore” (Patuá, 2016), ele imaginou uma pandemia causada por um vírus que se conectava à consistência moral das pessoas — atacando diferentemente os mais íntegros e os menos íntegros. “Na época eu devia estar resfriado”, ironiza. “Mas a ideia era que a pandemia tem uma função cultural e comportamental. E é o que vemos hoje: uma cisão na sociedade, entre os mais ou menos esclarecidos, mais ou menos doutrinados, que reagem de maneira diferente.” Previsão? “Não, a pandemia é um lugar-comum da ficção futurista.”

Agora, já não consigo pensar numa ficção que consiga impactar o leitor da maneira como a realidade está fazendo

Bras passa a vida imaginando o futuro. “Me alimento de artigos científicos”, explica. Em sua pesquisa, ele tenta identificar inflexões tecnológicas no mercado de trabalho (que profissões desaparecerão, quais surgirão no lugar), na engenharia genética, até na religião. “Que modificações as religiões sofrerão quando a telepatia eletrônica for possível? Eu jogo essa soma de tendências num caldeirão para criar futuros ficcionais.” Muitos desses, distópicos.

“A distopia virou um lugar-comum da arte porque mostra como um estado totalitário oprime seus cidadãos”, diz. Não é à toa, então, que distopias famosas como “1984” e “O Conto da Aia” voltaram às listas de bestsellers e séries do tipo na Netflix façam tanto sucesso. “Isso ocorre por causa da percepção de que estamos perdendo direitos. Elas servem de espelho para o pânico de que podemos perder ainda mais liberdades”. Por isso, diz, virou lugar comum dizer que já vivemos uma distopia no Brasil. Mas Bras acha que não. “Estamos, isso sim, numa avenida muito larga e iluminada rumo à distopia.”

E como ela seria? O maior medo de Bras passa longe das pandemias, focando nas tecnologias — sobretudo as de reconhecimento facial ou de localizadores como o GPS nos smartphones. “Elas permitem que qualquer ministério de segurança pública (e não só o Ministério do Amor, do 1984 do Orwell) saiba onde ou com quem estou, 24 horas por dia, contra a minha vontade. São tecnologias das quais não conseguiremos escapar, porque estão atreladas ao consumo. Por isso eu imagino que vivemos nessa avenida rumo à utopia. Resta saber se continuaremos nela.”

Nosso cotidiano, todas as nossas ações em relação a trabalho, afeto, fantasia, economia — tudo vai estar atrelado ao comportamento conflituoso na pandemia

O outro futuro distópico imaginável hoje, diz, parte de uma inflexão igualmente em curso: a desinformação. “As fake news criam uma confusão cognitiva na população, então são a ferramenta ideal para um Estado totalitário”, afirma — citando outra vez “1984”, em que o chamado “Ministério da Verdade” se encarregada de reescrever a verdade e a História o tempo todo para dominar seus cidadãos. “No momento que o cidadão não conseguir mais distinguir o que é verdade do que é falso, quem detém o poder da ferramenta poderá controlar esse cidadão. Com a pandemia, as fake news estão bagunçando ainda mais o cenário.”

E o que ele prevê para o pós-pandemia — para o ano que vem, para a próxima década? “Imagino que estamos caminhando para o fundo do poço”, diz sem titubear. “A covid-19, ou alguma mutação do vírus, vai nos acompanhar por anos.” O que resultará numa “cultura da pandemia”, explica. “Nosso cotidiano, todas as nossas ações em relação a trabalho, afeto, fantasia, economia — tudo vai estar atrelado ao comportamento conflituoso na pandemia: uns a favor, outros contra.” Viveremos numa “sociedade da desconfiança”, afirma, na qual grupos diversos desconfiarão uns dos outros, habitando suas bolhas.