Qual meditação mais combina com você? Um guia definitivo para meditar — Gama Revista
E meditar, já tentou?
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Reportagem

Escolha seu guia

Qual é o tipo de meditação que mais combina com você? Explicamos as diferenças e as características das técnicas mais praticadas no Brasil e no mundo

Mariana Payno 31 de Maio de 2020
© Hulton Archive /Getty Image

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Qual é o tipo de meditação que mais combina com você? Explicamos as diferenças e as características das técnicas mais praticadas no Brasil e no mundo

Mariana Payno 31 de Maio de 2020

A popularização da meditação, principalmente na internet, expandiu o leque de opções para os interessados em levar uma vida mais zen. As práticas guiadas, por exemplo, são cada vez mais populares: milhares de aplicativos e playlists estão nas mais variadas plataformas com receitas meditativas promissoras. Mas essa abundância de tipos e modos de meditar pode acabar nos deixando mais perdidos do que centrados — afinal, não era para aumentar o foco que decidimos fazer isso? Para acabar com a desorientação, listamos aqui as principais técnicas adotadas no Brasil e ao redor do mundo. Seja qual for a que mais se encaixa no seu propósito, todos os especialistas concordam: a meditação tem melhores efeitos se for praticada com regularidade. Para não desanimar depois, é melhor escolher bem antes de começar.

O cineasta David Lynch criou uma fundação para disseminar a meditação transcendental

Meditação Transcendental

Da solidão das montanhas do Himalaia aos holofotes mais brilhantes de Hollywood: essa foi a trajetória da meditação transcendental nos últimos 60 anos. Originada da linha do mestre védico Adi Shankaracharya, a técnica se tornou a queridinha dos famosos desde que seu guru e disseminador, o mestre Maharishi Mahesh Yogi, começou a popularizá-la nos anos 1960 — e talvez seja hoje a mais praticada e estudada do mundo +. É claro que ele teve uma ajudinha especial: depois que os Beatles visitaram Maharishi na Índia (foto no alto), a meditação transcendental ganhou ares descolados, e diversos artistas adotaram a prática, alegando que ela melhorava a criatividade.

Depois que os Beatles visitaram Maharishi na Índia, a meditação transcendental ganhou ares descolados, e diversos artistas adotaram a prática

De lá para cá, a lista de adeptos só cresceu e hoje conta com nomes como Madonna, Gisele Bündchen, Rodrigo Santoro, Oprah Winfrey, Wagner Moura, Jerry Seinfeld, Katy Perry, Sting e, o mais notável, David Lynch +. A meditação que conquista tanta gente promete um estado de relaxamento profundo, duas vezes mais intenso do que o sono, para tornar a mente calma e alerta, melhorar a concentração e diminuir a ansiedade, dores de cabeça e problemas de pressão. E, embora não seja preciso muito esforço para isso — não há posturas ou respirações específicas, por exemplo —, só é possível aprender os ensinamentos de Maharishi Mahesh Yogi com um professor qualificado e credenciado pela Sociedade Internacional de Meditação.

Jon Kabat-Zinn, criador do mindfulness, aliou técnicas meditativas a tratamentos médicos

Mindfulness

Atire a primeira pedra quem nunca se deparou com a palavra “mindfulness” em propagandas que prometem paz de espírito para lidar com o estresse do dia a dia (ou talvez você não atire a pedra, porque já embarcou nesse tão sonhado estado de serenidade). A banalização do termo esconde que, na verdade, o mindfulness é um tipo bem específico de meditação, nascido do casamento de tradições milenares com a medicina moderna e respaldado por estudos científicos. “Usamos técnicas derivadas do budismo e do hinduísmo, mas adaptadas a protocolos laicos e a uma linguagem mais acessível”, + explica o médico Marcelo Demarzo, fundador do Mente Aberta, grupo de referência em pesquisas sobre o tema. O objetivo do mindfulness é atingir um estado mental de atenção plena e consciência sobre os pensamentos e sentimentos, que permite compreendê-los melhor.

Ajuda no combate a dores crônicas, a doenças como a hipertensão e o diabetes, à dependência de álcool e drogas e, principalmente, ao estresse e à ansiedade

“É um estado que todos os seres humanos têm a capacidade de acessar, mas desenvolvem pouco”, diz Demarzo. Ele afirma que, se praticada corretamente e com regularidade, a meditação mindfulness ajuda no combate a dores crônicas, a doenças como a hipertensão e o diabetes, à dependência de álcool e drogas e, principalmente, ao estresse e à ansiedade, inclusive prevenindo o tão temido burnout — não à toa, a técnica se popularizou entre líderes e funcionários de grandes empresas, como o Google. Por isso, há muita informação na internet e aplicativos para quem quiser se aventurar +, mas Demarzo alerta: atenção ao charlatanismo. “Tem que ter cuidado, porque hoje tudo virou mindfulness.” Para dar o primeiro passo, ele recomenda o Headspace e a playlist do Mente Aberta.

A líder espiritual brasileira Monja Coen pratica e ensina a meditação zen

Budismo Zazen

Zazen, palavra que vem do sânscrito, significa literalmente “sentar zen” — isto é, em estado meditativo profundo. É o tipo de meditação praticado pelos seguidores do Zen Budismo japonês, como a líder espiritual brasileira Monja Coen, que ganhou popularidade na internet nos últimos anos, ao compartilhar seus ensinamentos e reflexões sobre a vida e a espiritualidade em um canal do Youtube que hoje conta com mais de um milhão de inscritos +. A técnica é regida por uma série de normas escritas pelo mestre Eihei Dogen no Japão do século 13, mas a Monja Heishin Gandra, discípula da Monja Coen, a resume em poucas linhas: “O zazen é uma prática de você com você mesmo. Você é seu próprio conteúdo, a mente observando a própria mente”.

Não é parar de pensar; é observar os pensamentos, como eles se formam e como eles terminam, mas não pegar carona neles

Atingir esse estágio, no entanto, não é tarefa tão fácil. É preciso, antes de tudo, caprichar na postura: sentar-se voltado para uma parede (para evitar estímulos e distrações), formar uma elipse com as mãos (o “mudra cósmico”) e manter a coluna ereta e o queixo um pouco para baixo, para os olhos, semiabertos, ficarem numa inclinação de 45 graus. Depois, prestar atenção no momento presente: sua respiração, batimentos cardíacos, movimentos e sons próximos, cheiros. “Com presença e consciência da postura, você observa sua mente. Não é parar de pensar; é observar os pensamentos, como eles se formam e como eles terminam, mas não pegar carona neles. Você está simplesmente presente”, diz a Monja Heishin. Ela garante que a técnica, que pode ser praticada por cinco ou até 40 minutos, ajuda a oxigenar o cérebro, aumentando a lucidez.

Jovem monge em templo Vipassana no Laos

Budismo Vipassana

Imagine ficar em completo silêncio por dez dias, meditando 12 horas por dia. Essa é a proposta do retiro Vipassana Dhamma Sarana, em Santana de Parnaíba, um dos 200 centros espalhados pelo mundo para difundir a técnica, que tem entre seus fãs e adeptos o escritor israelense Yuval Harari. Embora seja uma das mais antigas da Índia +, a meditação Vipassana manteve ao longo do tempo uma forma bastante autêntica e até hoje é ensinada gratuitamente aos interessados.

Os praticantes devem abster-se de uma série de atividades e atitudes, como o sexo, a mentira e o uso de álcool e drogas

E a promessa é grandiosa: “ver as coisas como realmente são” — e isso se faz pela autotransformação e auto-observação, pela erradicação das impurezas mentais e por meio de uma conexão profunda entre corpo e mente. Como atingir tudo isso? O caminho é árduo, e o voto de silêncio é apenas uma parte do rígido código de disciplina do retiro. Os praticantes também devem abster-se de uma série de atividades e atitudes, como o sexo, a mentira e o uso de álcool e drogas; além disso, devem aprender a fixar a atenção na respiração e, depois, observar as sensações que percorrem todo o corpo. Por fim, aprendem a meditação “de amor ou boa vontade frente a todas as coisas”. “A prática inteira é, na verdade, um treinamento mental. Exatamente como usamos exercícios físicos para melhorar a saúde de nosso corpo, a Vipassana pode ser utilizada para desenvolver uma mente saudável”, diz o site do centro paulista.

Adeptos da religião Hare Krishna cantam na Times Square em 1976

Hare Krishna

O mantra está nas canções de George Harrison e Nando Reis e fica na cabeça: hare krishna, hare krishna, krishna krishna, hare hare, hare rama, rama rama, hare hare… Quem só conhece as versões musicais mais pop talvez não saiba que essas palavras têm uma dimensão sublime para os seguidores da religião hare krishna. A meditação mântrica, também chamada de japa, é considerada um canal direto para o amor e a proteção divinas — Hare invoca o aspecto feminino de Deus, Krishna é um de seus nomes; e Rama é uma fonte de boa aventurança.

A meditação mântrica, também chamada de japa, é considerada um canal direto para o amor e a proteção divinas

Muito antes de ecoar nas vozes do ex-beatle e do músico brasileiro, a icônica oração estava inscrita na Bhagavad Gita, um célebre texto da tradição indiana, e foi passado adiante pelos ensinamentos de A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupãda, fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. Em geral, os adeptos do hare krishna meditam sentados, com as pernas cruzadas e as costas eretas, e usam o japamala, um cordão de 108 contas como guia para as repetições do mantra.

A meditação Kundalini, antes secreta, hoje é ensinada em cursos pelo mundo

Kundalini Yoga

Muitos tipos de meditação estão relacionados à yoga, e a kundalini é considerada a primeira formas de yoga praticada — mas ela só ficou conhecida no Ocidente a partir de 1968, quando o mestre Yogi Bhajan quebrou a tradição que não permitia o ensino da técnica ao público e a fez chegar até no festival de Woodstock.

Um sistema de técnicas para que a energia flua de maneira mais natural e melhor possível dentro do indivíduo

“A kundalini pode ser traduzida como energia vital, e a kundalini yoga é um sistema de técnicas para que a energia flua de maneira mais natural e melhor possível dentro do indivíduo”, explica o professor Rodrigo Yacubian no site da 3HO Brasil +. Os objetivos dessa meditação — que é feita com concentração total na respiração, mantras e movimentos com as mãos (os “mudras”) — incluem uma melhora no sistema imunológico e a eliminação de toxinas, além do desenvolvimento de uma maior consciência das próprias ações e da intuição. Para funcionar, no entanto, é preciso fazer uma série de exercícios e posturas de yoga (as chamadas “asanas”) e alguns minutos de relaxamento profundo antes de começar a meditar.

O grande objetivo da meditação das rosas é fazer uma limpeza energética

Meditação das Rosas

A abordagem holística ganha cada vez mais seguidores no Brasil e, por isso, a procura pela meditação das rosas tem crescido. Surgida na Califórnia entre os anos 1950 e 1960, a técnica foi trazida para o Brasil pela portuguesa Angelina Ataíde e é ensinada em cursos da Comunidade Inkiri, na praia baiana de Piracanga, e da Escola da Aura. Para se dar bem com esse tipo de meditação é preciso justamente entender o conceito de aura, que seria um campo de energia que envolve todos os seres. É sobre esse campo que a meditação das rosas atua, promovendo uma limpeza energética. “Isso ajuda a gente a proteger nossa aura sem acumular energias, nossas ou de outras pessoas, que estão ali velhas, guardadas, carregadas”, explica o professor de meditação das rosas Rael Godoy.

Tem uma proposta investigativa porque serve como uma ferramenta de autoconhecimento

Ele afirma que esse não é um processo fácil. “Vai tocar em medos, emoções, traumas, histórias não resolvidas; por outro lado, uma cura muito profunda acontece”, diz. “A meditação das rosas tem uma proposta investigativa porque serve como uma ferramenta de autoconhecimento: quanto mais a pessoa faz, mais ela vai ficando sensível ao tipo de energia que está limpando e, enquanto faz isso, percebe quais são os pontos da vida dela que precisam ser trabalhados.” Para despertar toda essa sensibilidade e praticar corretamente essa meditação, é preciso de um instrutor habilitado a transmitir a técnica.

O coreógrafo alemão Bernhard Wosien, que resgatou a tradição das danças circulares nos anos 1970

Dança Circular Sagrada

Talvez não seja o melhor tipo de meditação para se fazer em tempos de isolamento social, como o vivido agora, durante a pandemia de coronavírus. Isso porque as danças circulares são práticas coletivas por natureza: resgatadas pelo coreógrafo alemão Bernhard Wosien na década de 1970, elas remetem a celebrações ancestrais de ritos de passagem.

O principal enfoque não é a técnica, e sim o sentimento de união de grupo, o espírito comunitário que se instala

“O principal enfoque na dança circular sagrada não é a técnica, e sim o sentimento de união de grupo, o espírito comunitário que se instala”, diz o portal brasileiro que reúne os focalizadores do exercício, uma das práticas integrativas e complementares oferecidas pelo SUS no país, onde chegou no início dos anos 1990 e ganhou inúmeros adeptos. Apesar de serem feitas em movimento e em grupo, as danças circulares são consideradas meditativas. “A meditação não precisa ser necessariamente imóvel, podemos alcançar um estado de meditação mesmo em movimento”, explica Deborah Dubner, psicóloga e focalizadora de danças circulares. Segundo ela, uma das propostas da técnica é “ajudar a entrar num estado de recolhimento e conexão, que muitas vezes leva a um estado meditativo, através da atenção plena, da música e do movimento ritmado”.