O que comprar na quarentena para sua casa? — Gama Revista
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Estilo de vida

O que você comprou para a sua casa?

A pandemia fez muita gente passar mais tempo entre quatro paredes e adquirir itens para se adaptar à nova realidade. Gama reuniu algumas aquisições significativas desse período de isolamento social

Bruna Bittencourt 19 de Julho de 2020
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O que você comprou para a sua casa?

A pandemia fez muita gente passar mais tempo entre quatro paredes e adquirir itens para se adaptar à nova realidade. Gama reuniu algumas aquisições significativas desse período de isolamento social

Bruna Bittencourt 19 de Julho de 2020

Não se pode negar, a pandemia remodelou o consumo voltado à vida doméstica. Em meados de março, vimos carrinhos de compras abarrotados e prateleiras de papel higiênico vazias nos supermercados, enquanto o preço do álcool em gel subia vertiginosamente nas farmácias. “No início da quarentena, produtos de primeira necessidade de categorias como alimentos e higiene e limpeza ganharam relevância na busca do Google”, conta Bruno Affonso, especialista de insights para varejo do Google Brasil.

Em seguida, houve um aumento nas buscas por equipamentos esportivos, games, brinquedos, livros e itens de informática, o que, segundo o especialista, sugeriu que o brasileiro estava se adaptando à rotina dentro de casa. O período de isolamento para aqueles que puderam aderir seguiu para além do que se imaginava. Como consequência, cresceu o interesse por eletroportáteis, como máquina de pão, máquina de café e aspirador de pó, o que indica que as pessoas buscaram facilitar a rotina em casa. Segundo o Google, 45% dos consumidores brasileiros compraram on-line em lojas e varejistas que não compravam antes da COVID-19.

Os produtos mais buscados evidenciam que as pessoas, durante a quarentena, estão comprando itens para aumentar o conforto e o bem-estar dentro de casa

“Os produtos mais buscados evidenciam que as pessoas, durante a quarentena, estão comprando itens para aumentar o conforto e o bem-estar dentro de casa, além de preencher o tempo com atividades de lazer”, diz Affonso. No início deste mês, entre os dias 4 e 10, categorias como móveis e decoração foram as que mais tiveram crescimento de busca em relação a 2019 (móveis de escritório e vasos tiveram um aumento de 228% e 168%, respectivamente), enquanto também aumentou expressivamente a procura por itens esportivos, como bicicleta ergométrica (+331%) e tapete fitness (+309%).

O que esses números mostram é que tendências já identificadas por especialistas, como a preferência por pequenos produtores, o hábito de levar os exercícios para dentro de casa, a redescoberta da cozinha, e até a adoção do home office como regra podem ser aceleradas pela pandemia — segundo estudo do Google, um em cada cinco brasileiros acredita que vai incorporar o hábito de trabalhar e estudar de casa. Outras já existentes, como a das selvas urbanas, se mantém.

A seguir, sete pessoas contam sobre que aquisições fizeram durante a pandemia.

Uma mesa para o ‘anywhere office’

“Divido um escritório com várias pessoas, perto de casa e, na pandemia, passei a trabalhar em casa. Tinha uma mesa só e comecei a achar chato trabalhar no mesmo espaço onde fazia as refeições. Pedi então para um amigo, marceneiro, fazer uma mesa do tamanho de um canto da casa. Acho que a longo prazo, as pessoas – eu, inclusive – vão entender se irão precisar de apartamentos maiores, com espaço, de fato, dedicados ao trabalho. A pandemia também está fazendo a gente repensar a função da cidade grande. Entendemos que conseguimos produzir da mesma maneira, ainda que distante [de escritórios]. Por que vou ficar em um apartamento de 50 metros, se posso estar em uma casa no meio do mato com uma boa internet, produzindo com muito mais qualidade de vida, e vir para São Paulo de vez em quando, quando terminar a pandemia, para ver um filme, um show? São Paulo deixou de fazer sentido para mim como motor de produção. Para mim, é menos ‘home office’ e mais ‘anywhere office’.”

Ricardo Moreno, 42 anos, jornalista, fundador do The Summer Hunter


Formas e uma lava-louças para uma vida adulta

“Brinco com as minhas amigas que estou me tornando aquilo que mais temia: uma dona de casa dos anos 50. Não sei como vivi até hoje sem uma máquina de lavar louça. Nunca tive uma, não tenho filhos, moro sozinha [em Recife]. Desde o início da pandemia, estou com meu companheiro no Rio de Janeiro e meus dois enteados passam períodos com a gente. Fiquei até com dor na coluna de tanto lavar louça e a gente decidiu investir em uma máquina de lavar louça. Cozinhar tem sido muito terapêutico. Estou mergulhando mais nos livros de receita. Comprei formas de silicone, que são mais fáceis para fazer pão, torta, bolo e uma forma para fazer tofu [Maeve é vegana], que foi uma revolução e está me enchendo de orgulho. Comecei a fazer tensíssima. O primeiro tofu ficou ok, o segundo também, o terceiro foi uma desastre e o quarto fiz meio no ‘foda-se’. ‘Quer saber? Vou respeitar menos a receita e seguir meu instinto.’ Ficou um tofu profissa, nem acreditei. Faço uma relação com o trabalho de atriz: quando você respeita demais o texto, não se apropria dele, que te domina. Até comprei uma forma maior. Há dez anos, comia muito na rua e não fazia sentido me considerar uma adulta, se dependia de outras pessoas para fazer uma coisa tão básica, que é me alimentar. O que seria de mim nas savanas? Hoje, a cozinha é o lugar onde passo a maior parte do tempo.”

Maeve Jinkings, 43 anos, atriz


Plantas de estimação como companhia

“Eu morava com meus pais e me mudei durante a quarentena. Fiz várias aquisições, mas foram duas plantas maiorzinhas que comprei para a minha casa que me deixaram mais feliz. Elas me dão uma sensação de conforto, como se fossem coisas de estimação, até dei nome para elas. Nesta quarentena, quando estamos mais isolados, é uma forma de ter uma companhia, ainda que plantas não sejam vistas dessa forma. Regá-las, não deixá-las no sol, mudou um pouco a minha rotina. Querendo ou não, foi uma nova responsabilidade e você acaba se apegando às plantinhas.”

Pedro Pacífico, 27 anos, advogado e influenciador digital de livros no perfil @book.ster no Instagram


Imersa na imersão

“Há três anos, quando mudei para o apartamento antigo que moro, olho, frustrada, para a banheira espaçosa do banheiro. Ela não tem mais o sistema de aquecimento para água e isso não era algo tão fácil de resolver sem uma reforma. Durante os meses de isolamento, fiquei sonhando com um banho quentinho, que me ajudasse a descansar e cuidar das dores musculares e tensão que estava sentindo. Pesquisando na internet, encontrei um aquecedor por imersão criado para ser usado em ofurôs. Depois de encher o fabricante de perguntas sobre consumo de energia e segurança (tenho pavor do combo eletricidade + água!), resolvi me dar de presente de aniversário. É relativamente simples de usar, ligando na tomada e tendo um pouco de paciência até esquentar. E ando contente, passando umas horinhas mergulhada em água quente.”

Vânia Goy, 36 anos, jornalista especializada em beleza e bem-estar


Do pequeno produtor ao tarô

“Nos últimos meses, procurei comprar coisas de pequenos produtores, em mercadinhos, feiras, diretamente de fornecedores, que são os que mais estão sofrendo nesta fase. Comprei coisas espirituais: velas, óleos essenciais, incensos e um tarô de orixás. Tenho quatro baralhos, sempre estudei tarô e aprimorei mais ainda a leitura neste momento de pandemia. Quanto mais você pratica, mais percepção terá. Tiro umas três vezes por dia, para todas as minhas perguntas e dúvidas sobre o que vai acontecer.”

Isaac Silva, 30 anos, estilista


Muita coisa para ler

“Logo no início da pandemia, fiz a assinatura de uma revista, a Wired. Demorou, mas chegaram vários exemplares de uma só vez. Agora, tenho muita coisa para ler. O meu meio [da fotografia] parou em fevereiro e está voltando só agora. Desde então, trouxe uma mesa de som do meu estúdio, adaptei um espaço da casa para isso e passo um tempo considerável ali, gosto de tocar e estou fazendo mais isso. Também transformei a mesa da cozinha em uma mesa de ping-pong. Tem rolado altas batalhas com minha namorada e meu filho. Brinquei com ele de beer pong, em que você tenta jogar a bolinha de ping-pong dentro de um copo, montamos estruturas para o jogo com panelas, para passar o tempo. Com criança, a gente tem que inventar muita coisa. Ele não pode ver ninguém, o parque está fechado. A gente desenha muito, imprimo coisas para ele colorir. Estou tentando fazer ele brincar mais com sucata. Assistimos a um Indiana Jones e ele pirou em um altar maia no meio da floresta do filme. Construímos um com papelão, post-it e ele colocou uma estátua de buda que eu tinha. Ficou bem engraçado.”

Gil Inoue, 43 anos, fotógrafo


Quase um triatlo caseiro

“Moro com meu noivo. Faço triatlo, e ele corre maratona. Quando ficamos sabendo que tudo iria fechar, foi um desespero. Já tinha um rolo para fixar a bicicleta, mas não teríamos como correr em casa. Alugamos uma esteira por três meses e postergamos agora o período. Até setembro, teremos um trambolho na sala. Compramos algumas coisas para treino de força – pesos, bola, elástico – e não deixamos de usar nada. Saímos de São Paulo para passar um tempo com nossos pais. A esteira não dava para levar, mas carregamos tudo o que a gente comprou, era uma mudança! Sinto falta do sol [nos treinos], mas a vida ficou muito prática, apesar de não poder nadar [uma das três modalidade do triatlo]. Hoje, trabalhei até 13h, me troquei, fiz um treino de 45 minutos e voltei a trabalhar. Brinco que agora tenho tempo para dormir.”

Isadora Reis, 28 anos, gerente de marketing