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Transfobia e paternidade

© Reprodução

Após campanha de Dia dos Pais, Thammy Miranda foi vítima de transfobia e levantou o debate sobre famílias LGBTQI+ e o papel do pai na criação de filhos. Confira relatos

Daniel Vila Nova 07 de Agosto de 2020

O que era para ser só mais um entre inúmeros outros #publis de dia dos pais acabou se transformando em uma campanha de ódio contra Thammy Miranda, influenciador digital, pré-candidato a vereador e filho de Gretchen.

Após subir um post no instagram patrocinado pela campanha de Dia dos Pais da Natura — que também contou com outros pais como, Babu Santana, Henrique Fogaça e Rafael Zulu — Thammy passou a ser vítima de diversas ofensas transfóbicas.

Indignados com a presença de um homem trans em uma campanha de Dia dos Pais, conservadores subiram hashtag #NaturaNao e passaram a condenar a ação publicitária da marca nas redes sociais. Até o pastor Silas Malafaia se juntou aos protestos e convocou um boicote à Natura.

O boicote, entretanto, não teve o resultado esperado. Diversas celebridades — nomes como Bruno Gagliasso, Felipe Neto e Whindersson Nuneselogiaram a participação de Thammy na peça publicitária .

As ações da Natura dispararam no período em que a polêmica ocorria, mas Andrea Alvares, vice-presidente de marca, inovação, internacionalização e sustentabilidade da Natura, é cautelosa ao associar o impacto da campanha com a alta nas ações.

Em entrevista a Ecoa, Alvares afirmou que a escolha de Thammy não foi feita para chocar ou questionar. “Foram escolhidos homens que estão vivendo a paternidade de maneira presente, com todas as suas nuances. E Thammy é um deles”.

Após a polêmica, Thammy gravou um vídeo no Instagram onde relatou que não estava lendo os comentários e xingamentos transfóbicos. O ator também ressaltou que não foi o único influenciador digital a fazer parte da campanha. “Se eu não te represento, ok. Existem outros que te representam”, finalizou.

O ódio das redes sociais atingiu também a mãe de Thammy, Gretchen. “Fui muito atacada esta semana. Meu filho também. Nós fomos vítimas esta semana, por causa do Dia dos Pais”, disse a cantora em entrevista ao programa “Sterblitch Não Tem Um Talk Show: o Talk Show“.

No Twitter, Gretchen defendeu o filho dos ataques. Em vídeo, disse que sabe a educação que deu para Thammy. “Meu filho é um pai presente, um pai que sustenta, um pai que ama, um pai que cuida do seu filho, um pai que protege a sua mulher. Um pai de verdade”.

Amor de família

A dor que Gretchen sentiu ao ver seu filho atacado, e a prontidão em defendê-lo, não é surpresa para ninguém. Todo pai e toda mãe sentem uma enorme preocupação quando pensam nos filhos. Será que ele vai estar seguro? Será que ela vai ser feliz? Será que levaram guarda-chuva?

A preocupação, entretanto, se torna medo quando falamos de pais de filhos e filhas LGBTQI+ — e há motivos para isso: uma pessoa LGBTQI+ morre a cada 26 horas no Brasil, de acordo com dados recolhidos pelo Grupo Gay da Bahia em 2019.

O caminho nem sempre é fácil, mas o amor e o carinho são forças poderosas. Na edição do dia do orgulho LGBTQI+, Gama escutou relatos de famílias LGBTQI+ sobre as dificuldades e o amor envolvido nas relações de pais e filhos. Confira trecho da matéria a seguir.

Marcos e Theo


Para Marcos, engenheiro e professor, o processo foi longo. Theo, filho de Marcos, gostava de brincar com garotos quando criança. Os pais perceberam que não havia interesse em namorar meninos, logo julgavam que era uma fase. Estavam errados.

“No dia em que ele quis fazer a cirurgia nos seios [mastectomia], eu dei meu apoio financeiro e emocional. Eu e minha esposa sempre estivemos juntos nessa”, afirma o pai, “[Ser trans] não é problema; problema é a visão da sociedade”.

O processo foi demorado, dos 12 anos até os 20 anos. Mas Marcos sempre deu seu apoio incondicional. Ele diz que os momentos difíceis existiram, mas foram pequenos diante da felicidade e da realização que seu filho tem dentro de si. Theo sempre foi muito feliz.

Eduardo e Paulx


Já Eduardo Barbosa de Oliveira, arquiteto, sempre soube que seu filho, Paulx Castello, era diferente. O garoto sofreu muito bullying na escola, o que levou pai e filho para a sala de terapia. Lá, o garoto passou a entender melhor o que sentia e a agir do jeito que queria.

“Fui descobrindo o que ele queria e aceitei numa boa, a vida era dele e ele pode fazer dela o que ele quiser. Não sei bem se isso é entender; fui respeitando e apoiando”.

Para o pai, o importante é apoiar e entender que a vida dos filhos é dos filhos, não é dos pais. A obrigação dos pais é ajudar seus filhos a alcançarem seus objetivos, seja em qual área for.

“Tem muito pai que fica chocado, triste. O que eu posso sugerir é sair do próprio corpo e ver o que os filhos estão fazendo, querendo e decidindo para a própria vida. Não tem porque ficar chocado, triste ou magoado”.

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